Balaio de gatos (21 de fevereiro de 1959)

No setor de controle econômico atual, a grande massa popular, representada pelos empregados, continua a ser a eterna vítima do país.

Um balaio de gatos existe entre nós. Ninguém poderá nega-lo. Não há hoje em dia, um orçamento domestico equilibrado, desde que se trate do orçamento de um empregado comum. Seja comerciário, industriário, operário, funcionário público, etc..

Estes trabalhadores são os que mais sentem as agulhadas do descontrole da vida nacional, pois não dispõem de nenhuma válvula de escape para “tirar uma casquinha”, para fazer uma defesazinha qualquer. Só os parcos ordenados.

Os outros, não. Os outros defendem de qualquer maneira, sob qualquer meio ou módo.

O vendedor de amendoim, de limões, de laranjas; o pipoqueiro, o açougueiro, o alfaiate; o patrão, o engraxate, o médico; o dentista, o hospital, o comerciante, o barbeiro, o dono do bar, o sorveteiro, enfim, todos, todos, “se viram” como pódem, aumentam as ações ou gêneros comercializados, vão dando um jeitinho de acompanhar a espiral inflacionaria, que asfixia a nação.

Mas os empregados em geral, não dispõem de nenhuma condição dessas, são obrigados a aguentar as despesas incríveis somente com os minguados e sacrificados vencimentos mensais e sôbre seus costados ricocheteiam todos os resultados, todas as consequências desses descontrôle, desse anômalo estado de coisas.

Empregado, de modo geral, não tem defesa. De nenhum jeito, de nenhum modo. “Urrar e comer grama” é o seu direito; sentir, dia a dia, a corda das dificuldade apertando o pescoço, ao mesmo tempo que ele próprio aperta cada vez mais a cinta.

Dizem até que a cinta de póbre já une a fivela com o pé do couro junto à própria fivela!

Estamos vivendo um verdadeiro balaio de gatos.

O homem na classificação de empregado, qualquer que seja a sua fórma, porém desde que viva só e exclusivamente de um vencimento fixo, não póde viver; tem mesmo que vegetar, que sofrer, pois as despesas compulsórias de um lar, por mais modesto que seja este e por mais controladas que sejam aquelas, não cabem dentro do quadro advindo do ganho mensal. Isto é, a despesas forçadas (só o extritamente necessário para subsistir) do mês corrente, é superior à do mês passado e será mais superior ainda à do mês vindouro!

Então, é o caso de parodiar-se a verve de um humorista paulistano, afirmando-se sem pejo e com razão, que empregado não tem mesmo nenhum meio de defesa. Quando empregado tenta uma “defesazinha”, é posto lógo no olho da rua...

É ou não um balaio de gatos?

Extraído do Correio de Marília de 21 de fevereiro de 1959

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