A sucessão municipal (9 de janeiro de 1959)

Embora aparentemente frio o ambiente político local, no que tange à sucessão do prefeito Argollo Ferrão, certo é que as diversas facções partidárias da cidade apresentam, nos bastidores internos, as suas mais sérias preocupações.

Só a UDN, até agora, tem candidato oficialmente lançado, no nome do sr, Leonel Pinto Pereira. E como tal, desnecessário será o conjecturar-se que o partido que apoiou o sr. Carvalho Pinto esteja apenas dormindo sôbre a esperança de ver o seu candidato eleger-se só. Os trabalhos, embora discretos, estão sendo feito por aí, procurando-se uma forma de psicologia de vitória.

Acontece, que, pelo que se percebe, os demais partidos encontram-se, nesse particular, ainda com idéias baralhadas, auscultando opiniões de lideres e estudando meios de “não perder” as próximas eleições, porque, nos últimos anos, a maioria dos partidos políticos preocupou-se mais em não perder as eleições do que “ganhar bem o pleito”.

Conchavos têm sido realizados e mesmo entendimentos entre paredes de casas residenciais, longe das vistas ou do conhecimento da própria maioria dos próprios filiados a diversos partidos. Isto é, a sondagem está sendo feita “tête a tête” pelos altos dirigentes partidários e como tal, os entendimentos se chegarem a bom têrmo, representarão, ao acordo final, a decisão de três ou quatro elementos e não o pensamento da maioria da corrente política.

Aí existe, então, um êrro clamoroso, inexplicavelmente ignorado pelos dignitários da política que tal processo emprega: Poderá dar-se o caso de apreciação de um nome, que, embora reunindo qualidades essenciais para a desincumbência do cargo a ser disputado, seja mais um objeto de fidelidade partidária e de amizade política e pessoal aos poucos congressistas que tais decisões efetuam, antes do que um nome propriamente dito de simpatias e repercu(s)são populares.

Temos sondado, em palestras de aparência casual, diversos dirigentes políticos de nossa cidade e de nenhum deles conseguimos obter qualquer informação acêrca de como andam as coisas nêsse terreno. Entretanto, pelo que pudemos observar, a situação é a que acima ficou esplanada.

E, sondando as camadas mais baixas da opinião popular, o “zé povinho” (cujo voto é o que de fato pesa na balança eleitoral), pudemos perceber que a grande maioria está de atalaia e igualmente concluímos que muitos dos nomes citados como prováveis candidatos ao cargo de Prefeito em 3 de outubro próximo, não possuem a repercussão geral que êles mesmos e seus partidos políticos estão certos.

Nessas condições, a prudência e o espírito de observação deverão nortear os pareceres dos dirigentes políticos locais, antes do que a chamada “sagacidade política”.

Extraído do Correio de Marília de 9 de janeiro de 1959

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