Programa de salvação nacional (29 de janeiro de 1959)

Poderá parecer pessimismo, derrotismo ou pejorativismo. Poderá parecer mesmo a existência de razões simplistas, de caráter abjeto.

Poderá parecer muita coisa mais, tudo o que se tem dito e escrito, acêrca do atual govêrno da nação; entretanto, verdade é que se diga que muita coisa do que se tem propalado, em rítmo de criticas ao atual Govêrno da República, apresenta a sua porcentagem de inquestionáveis razões.

O sr. Juscelino Kibtschek precisa, urgentemente, elaborar um programa de salvação nacional.

Não há derrotismo nesta afirmativa; pelo contrário, existe na mesma, muito patriotismo e muito amor pelo Brasil e pelos brasileiros.

Em tôda a história da nossa República, jamais desfrutamos uma condição tão critica na vida nacional como presentemente. Quase não existem ângulos da administração federal, que não sejam passíveis de censuras que não apresentem motivos e ensejos de críticas diretas.

A inquisição está latente, envolvendo tôdas as camadas e condições sociais e o sr. JK precisa utilizar meios, para evitar um pânico ainda maior. Todos os orçamentos domésticos encontram-se completamente desorganizados; em virtude da elevação dos gêneros de principal utilidade. Os preços não devem e não pode continuar subindo pirotécnicamente, empurrando o país e o povo para o desasossego crônico.

Tentou o Presidente a redução dos impostos e taxas alfandegárias, objetivando a importação de diversos produtos, com o fito de um contrabalanceio da situação e detenção da alta do custo de vida. E, ao invés de contornar-se o problema, criou-se a incentivação e por assim dizer, a alta oficializada, com a elevação imoderada dos ágios de importação!

Nessas condições, o próprio Govêrno, talvez sem o pretender e talvez ainda sem o saber, está estimulando o espiral inflacionário, numa de suas mais perigosas origens.

O próprio Govêrno, adquirindo o dólar para importações de produtos essenciais à economia nacional, pelo preço de 75 cruzeiros e vendendo-o até a 259 cruzeiros por unidade, está, êle próprio, estimulando a alta do custo de vida!

Com tais ações, o Presidente da República vai caminhando para a própria perda da autoridade e da confiança popular, apanágios de primeiras grandeza para um dirigente. E perdendo a autoridade nêsses sentidos, torna-se impotente automaticamente, para combater a elevação altista do custo de vida, tornando-se pusilânime para estancar a especulação que tão impunemente campeia por aí, fazendo-nos acreditar que muita coisa existe “fora dos eixos” no país.

Temos em nós, que o próprio povo não regateará ao sr. Presidente da República, o apoio e a colaboração irrestritos, desde que sejam patentes as medidas bem intencionadas, no sentido de melhorar um pouquinho a situação aflitiva do povo brasileiro, confeccionando e ponto em prática, um autêntico programa de salvação nacional.

Para isso, entretanto, o sr. JK necessitará permanecer mais no Catete e olhar com mais assiduidade as condições de vida do povo brasileiro e menos para a construção de Brasília. Porque, do jeito que as coisas caminham, o sr. Juscelino não está construindo a nova capital federal; está é construindo seu nome à custa do sacrifício de 50 milhões de brasileiros!

De nossa parte, estamos dispostos a melhor prestigiar o Govêrno da União, desde que êle próprio desejo fazer-se merecedor dêsse prestígio.

Extraído do Correio de Marília de 29 de janeiro de 1959

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