O rabo do macaco (21 de janeiro de 1959)
As mulheres podem ser prodigiosas e “especialistas”, de módo geral, na preocupação, ocupação e falação da vida alheia. Entretanto, falar mal do próximo não é privilégio feminino; existe muito “barbado” por aí afóra, que deixa a mais faladeira e mais reparadeira das mulheres, numa “rabeira” fragorosa.
Em Marília, é assim. Na Avenida, principalmente.
Existem pessoas, que ao envés de cuidarem de suas próprias vidas, viver eternamente preocupada com o modo de viver, andar, vestir ou até de tossir e espirrar do próximo. São elementos que poderiam muito bem organizar um clube ou uma associação; o “Clube da Tesoura e dos Balanços do Bem Alheio”!
Pois não é que existem em Marília, cidadãos que vem a maior parte do tempo alí na Avenida do Fundador, a bisbilhotar a vida do próximo, insinuando, analisando e “envenenando”?
Se passa u’a mulher e o gaiato a conhece, já cochicha para o companheiro alguma coisa; se não a conhece, pergunta lógo quem é, onde mora tentando quasi saber até o número do manequim e a marca do pó de arroz.
Se passa um homem bem barbeado e bem vestido, já se fórma o “veneno”; se ao contrário, o indivíduo passou mal vestido e com a barba crescida, igualmente dá margens para comentários, disque-disque, etc...
O pior é o “serviço de informações” que vinga entre essas pessoas: quasi uma cópia da “Scotland Yard”! O cidadão realiza um negócio qualquer (lícito, bem entendido) e já os elementos do clube dispõem-no a dar “banlancos” do capital do coitado, em plena via pública. Fazem os cálculos direitinho, sem esquecer um mínimo detalhe, concluindo o “quantum” sobrou líquido para o outro. E botam uns olhares de inveja, que dá um azar desgraçado. E o pior, é que a notícia circula rápido, aumentando sempre, como as águas de um rio que vai recebendo afluentes. Não sabemos quão elevada é a morbidez dêsse “prazer”, tão difundidamente em vigência por um grupo de desocupados em Marília.
Aquí existe gente que sabe menos da própria casa e da própria família do que de toda a Marília. Gente que é bem possível que seus filhos andem rasgados, não estudem direito, suas esposas pouco se preocupem com o lar, suas famílias pouco se entendam, sem que essas pessoas saibam; entretanto, sabem quanto ganha o comerciante tal, o empregado tal, o proprietário tal. E levam a “contabilidade” abjeta tão “em dia”, que talvez nem os próprios guarda-livros das gentes focalizadas e “tesouradas” saibam tão bem, à quantas anda a realidade!
É uma coisa incrível!
Pensando bem, não é mesmo uma coisa incrível. É, antes de mais nada, falta do que fazer; ou falta de brios ou mesmo de educação.
O que é que se ganha, estando-se a meter o nariz na vida dos outros? Só antipatia. Só desdouros.
Ademais, no caso, aplica-se perfeitamente bem a história do macaco, que vivia preocupado com o rabo dos outros, esquecendo o seu próprio.
E para terminar, bom seria que os componentes desse clube fossem pentear macacos...
Extraído do Correio de Marília de 21 de janeiro de 1959
Em Marília, é assim. Na Avenida, principalmente.
Existem pessoas, que ao envés de cuidarem de suas próprias vidas, viver eternamente preocupada com o modo de viver, andar, vestir ou até de tossir e espirrar do próximo. São elementos que poderiam muito bem organizar um clube ou uma associação; o “Clube da Tesoura e dos Balanços do Bem Alheio”!
Pois não é que existem em Marília, cidadãos que vem a maior parte do tempo alí na Avenida do Fundador, a bisbilhotar a vida do próximo, insinuando, analisando e “envenenando”?
Se passa u’a mulher e o gaiato a conhece, já cochicha para o companheiro alguma coisa; se não a conhece, pergunta lógo quem é, onde mora tentando quasi saber até o número do manequim e a marca do pó de arroz.
Se passa um homem bem barbeado e bem vestido, já se fórma o “veneno”; se ao contrário, o indivíduo passou mal vestido e com a barba crescida, igualmente dá margens para comentários, disque-disque, etc...
O pior é o “serviço de informações” que vinga entre essas pessoas: quasi uma cópia da “Scotland Yard”! O cidadão realiza um negócio qualquer (lícito, bem entendido) e já os elementos do clube dispõem-no a dar “banlancos” do capital do coitado, em plena via pública. Fazem os cálculos direitinho, sem esquecer um mínimo detalhe, concluindo o “quantum” sobrou líquido para o outro. E botam uns olhares de inveja, que dá um azar desgraçado. E o pior, é que a notícia circula rápido, aumentando sempre, como as águas de um rio que vai recebendo afluentes. Não sabemos quão elevada é a morbidez dêsse “prazer”, tão difundidamente em vigência por um grupo de desocupados em Marília.
Aquí existe gente que sabe menos da própria casa e da própria família do que de toda a Marília. Gente que é bem possível que seus filhos andem rasgados, não estudem direito, suas esposas pouco se preocupem com o lar, suas famílias pouco se entendam, sem que essas pessoas saibam; entretanto, sabem quanto ganha o comerciante tal, o empregado tal, o proprietário tal. E levam a “contabilidade” abjeta tão “em dia”, que talvez nem os próprios guarda-livros das gentes focalizadas e “tesouradas” saibam tão bem, à quantas anda a realidade!
É uma coisa incrível!
Pensando bem, não é mesmo uma coisa incrível. É, antes de mais nada, falta do que fazer; ou falta de brios ou mesmo de educação.
O que é que se ganha, estando-se a meter o nariz na vida dos outros? Só antipatia. Só desdouros.
Ademais, no caso, aplica-se perfeitamente bem a história do macaco, que vivia preocupado com o rabo dos outros, esquecendo o seu próprio.
E para terminar, bom seria que os componentes desse clube fossem pentear macacos...
Extraído do Correio de Marília de 21 de janeiro de 1959
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