Extraordinária coincidência (10 de janeiro de 1959)
Existe um rapaz que trabalha como caixa em uma das repartições públicas da cidade. Como sóe acontecer a tôdas as pessoas que exercem tal mistér, o mesmo não constitui exceção à regra geral de que todos os que lidam com dinheiro, estão sujeitos a sofrerem prejuízos vez por outra. Êsse rapaz nunca tinha achado dinheiro; só perdido, uma vez que nem tôdas as pessoas, ao receberem um trôco errado (a maior), têm a suficiente consciência de devolver o excesso. Muitos que quem perde é o estabelecimento, quando, na realidade, quem perde e é obrigado a repor a diferencia, é a pessoa que trabalha no caixa.
Isto é apenas um pequeno prefácio, para comentarmos uma coincidência extraordinária ocorrida ante-ontem e relacionada com êsse fato.
É o seguinte:
O rapaz saiu do emprego, passou na banca de jornais, adquiriu a “A Gazeta Esportiva”, entrou no “Bar Avenida” e comprou um pão. Atravessou a Avenida, na altura do Banco de São Paulo. Ao pisar no passeio, divisou sôbre a guia da sarjeta, algumas cédulas de 500 cruzeiros. Apanhou-as, estranhando o fato de diversas pessoas estarem naqueles trecho paradas e outras tantas transitando apressadamente (eram pouco mais das 18 horas), sem que ninguém tivesse visto o dinheiro ali “dando sopa”. Um único cidadão viu o rapaz apanhar a “gaita”, porém deve ter ficado em dúvidas ou não deve ter percebido bem a realidade do fato.
O rapaz veio até a redação e falando com o Anselmo, contou o caso e mostrou o dinheiro. E acrescentou que o acontecimento, ao invés de trazer-lhe qualquer alegria, acarretara-lhe, pelo contrário, certa tristeza. É que o rapaz cogitou acêrca da possibilidade da importância achada pertencer a algum pobre, a algum operário ou mesmo ter sido perdida por algum garoto empregado no comércio e incumbido de fazer cobranças ou descontos em bancos.
O gerente do jornal ponderou que não seja plausível “andar grutando”, porque apareceriam, forçosamente, alguns falsos proprietários da importância encontrada; e que a melhor providencia seria aguardar, pois no jornal sempre aparecem reclamações acêrca de questões dêsse jaez.
Então o rapaz concordou em esperar alguns dias, para vez se o dono do dinheiro se manifestaria sob qualquer aspecto ou meio. E foi para sua casa.
À noite, uma cunhada do rapaz (desconhecendo o fato do mesmo ter achado o referido dinheiro), procurou-o para que êle fosse ao “Correio de Marília” anunciar que uma sobrinha (dela e do próprio rapaz), havia perdido, na Avenida, depois das 18 horas, determinada importância em cédulas de 500 cruzeiros e que constituía seus vencimentos de comerciária do mês de dezembro do ano passado.
O rapaz quase caiu ao perceber a estranha coincidência: ao notar que o dinheiro que êle encontrara na rua, no meio e na presença de tanto gente, pertencia à sua própria sobrinha, que trabalha para auxiliar a manutenção dos pais.
A coincidência extraordinária, mereceu a ocupação dêsse nosso espaço.
O rapaz é o autor dêste artigo; a mocinha é sobrinha do mesmo, empregada na “Casa Romeu”.
Extraído do Correio de Marília de 10 de janeiro de 1959
Isto é apenas um pequeno prefácio, para comentarmos uma coincidência extraordinária ocorrida ante-ontem e relacionada com êsse fato.
É o seguinte:
O rapaz saiu do emprego, passou na banca de jornais, adquiriu a “A Gazeta Esportiva”, entrou no “Bar Avenida” e comprou um pão. Atravessou a Avenida, na altura do Banco de São Paulo. Ao pisar no passeio, divisou sôbre a guia da sarjeta, algumas cédulas de 500 cruzeiros. Apanhou-as, estranhando o fato de diversas pessoas estarem naqueles trecho paradas e outras tantas transitando apressadamente (eram pouco mais das 18 horas), sem que ninguém tivesse visto o dinheiro ali “dando sopa”. Um único cidadão viu o rapaz apanhar a “gaita”, porém deve ter ficado em dúvidas ou não deve ter percebido bem a realidade do fato.
O rapaz veio até a redação e falando com o Anselmo, contou o caso e mostrou o dinheiro. E acrescentou que o acontecimento, ao invés de trazer-lhe qualquer alegria, acarretara-lhe, pelo contrário, certa tristeza. É que o rapaz cogitou acêrca da possibilidade da importância achada pertencer a algum pobre, a algum operário ou mesmo ter sido perdida por algum garoto empregado no comércio e incumbido de fazer cobranças ou descontos em bancos.
O gerente do jornal ponderou que não seja plausível “andar grutando”, porque apareceriam, forçosamente, alguns falsos proprietários da importância encontrada; e que a melhor providencia seria aguardar, pois no jornal sempre aparecem reclamações acêrca de questões dêsse jaez.
Então o rapaz concordou em esperar alguns dias, para vez se o dono do dinheiro se manifestaria sob qualquer aspecto ou meio. E foi para sua casa.
À noite, uma cunhada do rapaz (desconhecendo o fato do mesmo ter achado o referido dinheiro), procurou-o para que êle fosse ao “Correio de Marília” anunciar que uma sobrinha (dela e do próprio rapaz), havia perdido, na Avenida, depois das 18 horas, determinada importância em cédulas de 500 cruzeiros e que constituía seus vencimentos de comerciária do mês de dezembro do ano passado.
O rapaz quase caiu ao perceber a estranha coincidência: ao notar que o dinheiro que êle encontrara na rua, no meio e na presença de tanto gente, pertencia à sua própria sobrinha, que trabalha para auxiliar a manutenção dos pais.
A coincidência extraordinária, mereceu a ocupação dêsse nosso espaço.
O rapaz é o autor dêste artigo; a mocinha é sobrinha do mesmo, empregada na “Casa Romeu”.
Extraído do Correio de Marília de 10 de janeiro de 1959
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