Dia dos Mortos (1 de novembro de 1958)

Hoje, Dia de Todos os Santos.

Amanhã, Dia dos Mortos, dobrarão os sinos à Finados. Contritamente deverão todos reverenciar a memória e a saudade de entes queridos e amigos saudosos, hoje desaparecidos.

Coroas, ciprestes, velas e flores...

Ao lado disso, corações apertados, rememorando a vida daqueles que partiram.

Finados!

Dia de respeito, de reverência, de saudade. Data de recordações, de visitas às campas onde repousam o sono eterno, aqueles que conviveram conosco ontem e cujas lembranças nos são tão caras.

Movimentos característicos da prosperidade da data, verificar-se-ão em todos os Campos Santos. Pelas ruas das cidades dos mortos, caminharão gente de todas as idades, sexos e posições sociais. Tôdas estarão igualadas em pensamentos, tôdas estarão equiparadas em idênticos propósitos, porque tôdas estarão prestando análoga homenagem a uma lembrança saudosa, a um nome querido.

Terços desfilarão, dedilhados por mãos ágeis ou dedos trêmulos. Rostos contritos não poderão esconder a tristeza e nem disfarçar a compenetração da respeitosa data. Velas acesas marcarão pontos cintilantes, lutando contra o vento ou a chuva, qual estrelas terrestres brilhando à luz do dia. Genuflexões. Gente pobre, gente rica, gente até miserável, misturar-se-á amanhã, no cemitério da Avenida da Saudade.

Tanto nas simples valas comuns, como nas suntuosas sepulturas, o aspecto será o mesmo, porque os corações não dissemeneiam ou não distribuem, como não diferenciam sentimentos de saudade por um morto querido. Todos se igualarão, porque todos aqueles que aqui não existem, igualaram-se na hora da morte, embora fossem distanciados em vida.

Finados!

Dia de respeito profundo, nos últimos anos com uma apresentação desvirtuada. Desvirtuada, em tese, porque, aparentemente menor tem sido o número de pessoas contritas e honestas (para consigo mesmas), em relação ao valor, significado e importância das visitas aos túmulos de parentes ou amigos. Desvirtuada em parte, porque as concentrações aos campos santos, já chegaram a servir de motivos para saudações efusivas e espalhafatosas, para conclusão ou entabolamento de negócios e para namoricos até!

Amanhã será o dia consagrado aos mortos. Mortos pobres ou ricos, mortos bons ou maus.

Cada túmulo, cada vala, cada capela, receberá a sua visita. Muitas permanecerão olvidadas, sem parentes, sem amigos, sem uma coroa, uma flor, uma vela.

Ao Cruzeiro da necrópole, acudirão também milhares de pessoas. As que renderão um preito ao morto distante, parente ou amigo. É outra forma de homenagem de memória, de rememoração de saudade, de reavivamento de uma lembrança.

Dobrarão os sinos à Finados. Dir-se-ão orações aos mortos. Queimar-se-ão velas em intenção da lembrança daquêles que desapareceram mas que continuam vivos na memória e na saudade das gentes. Flôres enfeitarão túmulos, coroas desenterrarão saudades.

Dia de Finados.

Dia dos Mortos.

Reverenciemos todos, indistintamente, a lembrança daqueles que nos foram caros. Olvidemos as atribuições cotidianas e a contenda pró subsistência. Esquecemos as dificuldades momentâneas, os problemas pessoais e particulares, os deveres comerciais. Dediquemos nossos pensamentos aos que são dignos dêles, principalmente no Dia de Finados.

Extraído do Correio de Marília de 1 de novembro de 1958

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)