Um exemplo a ser imitado (3 de setembro de 1958)

É comum dizer-se que o repórter tem o nariz tão grande, que vive a mete-lo onde nem sempre é chamado. Acontece que isto é verdade. O repórter, por dever de oficio, possui um espírito incomum de curiosidade e está sempre atento a ouvir e a ver tudo o que se passa em seu derredor, mesmo nas horas desocupadas.

E foi isso mesmo que nos aconteceu, num dia destes, num dos populares bares da cidade. Alí estávamos saboreando um cópo de chopp, acomodados num tamborete, quando percebemos que um grupo de quatro pessoas discutia sôbre política e acêrca de candidatos. Quando um disse que iria votar, para deputado estadual num candidato de fóra (que por sinal está fazendo uma “barulheira” infernal em nossa cidade), o outro quasi o “comeu” vivo. Chamou-o à queima roupa de mau mariliense, de inimigo de nossa cidade (ambos são moradores velhos daquí).

De nossa parte, limitávamos a ouvir atentos, embora disfarçadamente, o transcorrer da polêmica. Dizia o chamado mau mariliense, que o candidato “X” prometera-lhe a importância de 500 cruzeiros por cada voto que conseguisse em Marília! E acrescentava que sendo póbre, não iria deixar escapar éssa “boca rica”, que só aparece de quatro em quarto anos.

Está claro que o rapaz é póbre. Póbre de espírito, póbre de patriotismo e póbre de amor por Marília. Póbre, não(:) miserável.

A argumentação do que combateu a atitude da pessoa citada, não resultou em positividade. O outro terminou por retirar-se, tendo deixado no ar a certeza de que votaria em gente de fóra, por 500 cruzeiros. Isto é, que sua própria consciência nada mais vale do que meio conto de réis.

Depois que a turma se desfez, permaneceu sozinho, exatamente ao nosso lado, o homem que combatera a ação do mau mariliense. Indisfarçadamente encontrava-se acabrunhado com o resultado e o rumo da conversa. Tanto assim, que à guisa de desabafo (não sabemos se o mesmo nos conhece pessoalmente ou não), voltou-se para nosso lado. E perguntou-nos se ouvíramos a conversa. Quando lhe respondemos afirmativamente, quiz saber nosso ponto de vista. Dissemos-lhe que obrára bem e que estávamos com ele nesse ideal. Aí o rapaz tomou as rédeas da palestra casual e demorou-se a citar exemplos e pregar idéias. Exatamente a copia de nossa luta. Perguntamos ao moço em quem iria votar, esperando uma confirmação ou um titubeio em sua resposta, para certificar-nos da verdade de suas alegações anteriores. Foi franco: “Votarei em Fernando Mauro, para deputado estadual”. E perguntou: “Não é bom?” Dissemos que sim, que éra bom e que acima de tudo é candidato de Marília. E indagamos sôbre o deputado federal. O homem tornou a dizer a verdade. Explicou-nos que embóra reconheça no reverendo Álvaro Simões um homem digno e de valor, não simpatisa muito com o mesmo. E declarou também que não aprecia o Badra. Arrematou: “Mesmo não simpatisando com o Álvaro Simões e não apreciando o Badra, escolherei um dos dois e votarei, pois não irei votar, sob fórma alguma, em candidatos de fóra”.

Felicitamos o homem e enaltecemos seu valor de mariliense e sua compreensão à luta sacrossanta que óra se encontra em vigência em Marília, em pról da eleição de gente de nossa cidade. E fomos mais adiante, pedindo-lhe, não como favor à nós, pessoalmente, mais sim à Marília e seu povo, que se ele tivesse algum parente ou amigo que se encontrasse na mesma situação dele, isto é, sem ter a preferência marcante pelos candidatos daquí, tivesse a mesma atitude que ele próprio acabara de confessar, escolhendo um nome que melhor lhe aprovesse para votar, desde que fosse um homem de Marília.

Essa pessoa é um homem do povo. Conhecemo-la de vista, há muitos anos, embora não saibamos o nome e nem onde trabalha. Mas temos a convicção de que é um bom mariliense. E nos demonstrou a sinceridade de átos dignos de um bom mariliense.

Não fôra a importância dêsse exemplo, não teríamos delineado este fato; acontece que éssa mostra de amor por Marília é digna de ser relatada, ser reconhecida e ser imitada. Um homem comum deu um grande exemplo. Sigamos os que ainda estão indecisos ou os que estão “caindo” pela “bicaria” dos candidatos forasteiros.

Extraído do Correio de Marília de 3 de setembro de 1958

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