Um comício “sui generis” (17 de setembro de 1958)

Como sabem todos, nunca condenamos ou aplaudimos os comícios políticos que se realizaram ou se realizam na cidade. São concentrações públicas perfeitamente legais, previstas pela própria Constituição e amparadas também pela Lei Eleitoral. De nossa parte, temos nos cingido ao noticiário puro e simples, conforme impõe nossa missão de repórteres absolutamente neutros.

Entretanto, hoje, neste comentário, vamos sugerir a realização de um comício político em Marília. Um comício inédito, “sui generis”. Um comício do qual participem, exclusivamente, os cinco candidatos de nossa cidade, óra disputantes de cargos eletivos no pleito de 3 do próximo mês.

Formulamos aos srs. Aniz Badra, Álvaro Simões, Fernando Mauro, Guimarães Toni e Shiguetoshi Nakagawa, o apêlo de que todos os cinco, como bons marilienses, se reúnam em praça pública, para falar um por um, ao povo de nossa cidade e da região. Que nesse “meeting”, sejam desprezados os interesses de legendas e não sejam abordadas as eleições no terreno da sucessão governamental. Que cada um dos candidatos da terra, fale ao povo num mesmo local, expondo seus planos de ação, suas intenções, seus desejos confessos de merecer o voto do público eleitor de nossa cidade e região, para servir a êsse mesmo público.

Será um exemplo sadio de verdadeiro civismo e amor por Marília. Será uma demonstração inequívoca de real patriotismo e interesse na defesa das reivindicações de nossa própria “urbe”. Representará, por outro lado, um atestado de coerente identidade de idéias, quando os candidatos de Marília, os legítimos candidatos de nossa cidade, falarão ao povo de nossa terra, francamente, conforme todos tem feito até aquí, só, que, com a vantagem de efetivarem um dignificante exemplo de civismo, néssa luta belíssima e democrática que óra empreendem.

O povo ficará assim mais esclarecido, com respeito aos nomes que pretende sufragar. Não haverá o risco de ficar impressionado pela palavra de um, num dia e depois apagar éssa impressão com o contacto de outro, dias após. Ouvirá a todos, num mesmo dia, num mesmo local. Aquilatará os pontos de vista e os propósitos de todos, indistintamente e formará seu juízo apropriado, seguro, em torno dos nomes de nossa cidade, se por ventura alguma dúvida ainda alimentar.

Talvez, estejamos errados, talvez pareça éssa sugestão uma utopia, de acôrdo com a mentalidade interpretadora de alguns leitores. Acontece, que entendemos, achamos oportuna éssa realização. Nós que formamos sempre ao lado dos que pretendem, désta vez, a eleição de legítimos representantes de Marília, nós que pregamos o prestígio em torno dos candidatos locais, sem jamais termos personificado a questão, julgamos necessário êsse colóquio coletivo dos candidatos marilienses com o próprio povo.

Cada um dos candidatos de per sí, exporá sua plataforma política, num gesto que significará, indubitavelmente, uma profissão de fé, lavrada publicamente. Por outro lado, temos a certeza de que se efetivada a idéia óra exteriorizada, partirá de Marília um exemplo dignificante, como já, no passado, incontáveis foram as demonstrações de patriotismo e civismo que aquí nasceram e frutificaram.

A sugestão é nossa e só alenta um intento: Que Marília, democraticamente, veja os seus candidatos, em público e de mãos dadas, dirigindo-se a todos, falando com todos e confiando no eleitorado local. Que embora pertencentes a legendas diversas, os candidatos de Marília possam continuar provando que seus interesses, antes e acima de legendas, se prendem aos interesses da cidade e do povo da Capital da Alta Paulista.

Extraído do Correio de Marília de 17 de setembro de 1958

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