Parlamento ou “ring”? (15 de agosto de 1958)

A história se repete. Mais uma vez, deputados paulistas se engalfinharam, qual moleques de rua, em plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo. Trocaram sôcos e ponta-pés a valer. O acontecimento, como das vezes anteriores, não teve maiores consequências, porque entrou logo em cena a turma do “deixa disso”.

O sr. Cássio Ciampolini e outros deputados, apresentaram ao plenário do Palácio 9 de Julho, um requerimento propondo a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, para apurar as irregularidades apontadas pela imprensa, no caso da censura de aparelhos telefônicos em São Paulo.

A proposição de “panos p’ra manga”, quando a deputada Conceição da Costa Neves foi à tribuna e “desancou a lenha”, atribuindo ao Governador do Estado e ao sr. Pedroso Horta, ex-Secretário da Segurança Pública, a responsabilidade do fato. Como não tem “papas na língua”, disse “cobras e lagartos” do sr. Jânio Quadros.

O sr. Araripe Serpa (por sinal envolvido mais de uma vez nesses lamentáveis acontecimentos), como deputado situacionista, subiu à tribuna. E de lá refutou as verberações de “dona” Conceição. Nisso entrou na conversa o sr. Figueiredo Ferraz(,) um dos subscritores do requerimento, contradizendo o orador em apartes seguidos, chamando o sr. Araripe Serpa, inclusive, de “deputado transviado” e tachando-o de sem idoneidade moral. O “Araripinho”, valendo-se de um copo com água à sua disposição, arremessou o vidro sôbre o deputado Figueiredo Ferraz. Êste revidou, convidando o outro a descer da Tribuna e mostrar que “braço é braço”, desafio que foi aceito e os dois se engalfinharam, numa cena de “farwest”. A turma do “larga disso, deixa disso, não faça isso”, conseguiu apartar os turbulentos.

Mais tarde, o sr. Martinho Di Ciero, apesar da idade, resolveu “tomar as dores” do sr. Figueiredo Ferraz e demais signatários do requerimento e “comprou briga também”. E ainda com o sr. Araripe Serpa. E “quebrou o pau” mais uma vez, no mesmo dia, na mesma sessão plenária.

Fatos desagradáveis, deprimentes, vexatórios. Deputados eleitos pelo povo, para defender seus interêsses, dão sobejas mostras de pugilato, com polpudos vencimentos que nós, o povo, lhe pagamos! Os interêsses reais, êsses são relegados a plana secundária, porque a turma é mesmo de “carnaval” e de “far-west”.

Por sorte, não entrou na briga também o sr. Ralf Zumbano; senão, teria a crônica política com assento na Assembléia noticiado u’a meia dúzia de “knout out”!

Se é assim, bom seria que, para as eleições de três de outubro, os eleitores de São Paulo mantivessem o Zumbano e elegessem também o Luizão, Paulo de Jesus e outros. A coisa seria mais divertida e os ingressos para o público gratuitos, pois o Estado paga bem os deputados, mesmo sem contar-se que para a próxima legislatura êles vão ganhar 60 mil cruzeiros fixos, que, trocados em graúdos, representarão mais de 100.

Só no Brasil é que se vêem essas coisas. Socos, pontapés, revólveres e até “lurdinhas” em plenário! Isto está ficando uma “belezura”... Ora se está!

Extraído do Correio de Marília de 15 de agosto de 1958

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