Depois da “Moda Saco”, a “Linha K” (1 de agosto de 1958)

Já ricocheataram em São Paulo, os efeitos da primeira apresentação o novo tipo de vestido feminino, recente levada a efeito em Paris. Trata-se da “Linha K”, que, segundo opinião dos costureiros parisienses e dos “entendidos” entre nós, irá alcançar pleno sucesso.

O costureiro paulistano Pepe Pastor esclarece que a citada “Linha K” foi inspirada nos movimentos do Segundo Império, de Napoleão e Josefina. Alguns modêlos apresentam os decotes exageradamente baixos e outros as saias tão curtas que nem chegam aos joelhos!

Vai ser mesmo uma “gracinha”!

Veja o que a respeito declarou à imprensa o costureiro referido:

“Jean Patou, ao trocar seu antigo modelista Júlio Laffite pelo atual Roland Karl, vai substituir a característica de elegância própria da escola “Robert Piguet” pela estrutura mais exagerada, mais espetacular do desejo do comércio. Trata-se de explorar, antes de tudo, a beleza do corpo feminino, até o extremo que ela deve ser cortada pela técnica do soutien Gorje, que modela completamente o busto da mulher. Por outro lado, nas linhas e nas costas com objeto que não resulte excessivamente sensual. A determinante da linha “K” está, portanto, fixada. Fica inspirada nos movimentos do II Império de Napoleão e Josefina, com a diferença que nas costas pode ser reta ou em curva. Patou busca na linha “K” estruturar a silhueta da mulher.

Acredito que terá uma aceitação completa e total, porque inclusive prevaleceu entre nós a linha “colher”, como ocorreu também com a aceitação das linhas “saco” e “trapézio”. A côr que dominará êste ano vai ser a côr natural do tijolo. O sucesso será absoluto”.

As declarações acima dizem tudo: Atestam que muitos “marmanjos” precisariam ser obrigados a arrumar outras ocupações, ao invés de preocupar-se com um comércio dêsse tipo. Demonstram, conforme transcrição supra, o sentido duplamente condenável de um comércio desenfreado e ganancioso e o espírito sádico “de explorar a beleza do corpo feminino até o extremo...”

Não há negar que o mundo marcha ininterruptamente para o cáos moral e que nós, os brasileiros, habituados a imitar sempre, nem sempre nos preocupamos em copiar tudo o que é bom, limitando-nos, regra geral, a copiar simplesmente “tudo”.

A exemplo daquilo que dissemos anteriormente, quando abordamos a questão da “Moda Saco”, expressamos também o nosso ponto de vista de que talvez o assunto “pegue”, porque existem entre nós muita gente do sexo feminino que tem “água de côco” na cabeça; é possível ainda que nós próprios venhamos a ver na rua, sob os olhos complacentes da própria polícia de costumes, u’a mulher com vestido cuja saia não atinja os joelhos e com um decote que deixe transparecer o umbigo!

O que é certo, isso ninguém poderá duvidar, é que os “barbados” que apresentam idéias tão “luminosas” assim, como os modistas e costureiros profissionais, deveriam ser obrigados a pegar na picareta, para amenizar um pouquinho a febre de “invenções” de absurdos e atentados à moral, que convencionaram denominar “modelos femininos”.

Bah!

Extraído do Correio de Marília de 1 de agosto de 1958

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