Candidatos & Política (21 de agosto de 1958)

Reiteradas vezes, temos confessado sem pejo algum, que nada entendemos de política. Não “política” na verdadeira extensão do vocábulo, mas sim certas sujeiras morais que por aí se cometem à miude, sob o rótulo e pretexto de que se trata de política.

O povo brasileiro, em sua maioria, ignorante e sincero quanto ao dar crédito a qualquer “doutor”, deve ficar estarrecido dentro de sua filosofia matuta e de seu gesto leal, frente aos absurdos que não entende e que nésta época de pré-eleições, tão abusivamente campeia por ai.

Dissem(os) que não compreendemos de política. Exemplifiquemos: não entendemos a balburdia e a pouca vergonha, os engodos, as mentiras e as delongas, os embustes e os processos escusos, condenáveis, que tanto deturpa a real acepção da palavra “política”, que interpretamos como uma ciência, uma arte de dirigir e orientar o govêrno do povo soberano, com lealdade, com
(h)ombridade, de maneira Franca, esclarecedora, que coloca em seu devido lugar e em igualdade de condições, embora ressalvada a ação pessoal, todos os seres que habitam o mesmo sólo, dentro de um único e só regime político propriamente dito.

Política hoje, com pouquíssimas e honrosas prerrogativas, é fazer politicagem, realizar “política”; isto é, deturpar a verdade dos fatos, inventar mentiras, atirar-se contra homens ou nomes, fomentar quezilhas, desenterrar “podres” e idealizar outros tantos. É praticar o áto indébito de violar (a) honra do próximo (e) chegar mesmo a atingir a família do adversário.

Em resumo, é covardia. É demonstração cabal, irretorquível, indiscutível, de falta de personalidade. É covardia, repetimos.

Temos visto ultimamente, o que já presenciamos no passado, em épocas semelhantes, ou seja, nas ocasiões pré-eleitorais: a devassa imoral no seio da família dos candidatos contrários, uma torrente de embustes, que, antes de elucidar o povo, termina por confundi-lo, por atirá-lo de roldão ao “deus dará” da oportunidade, num misto de aventura, justo na ocasião em que deve exercer, com a mais pura e cristalina consciência, o sagrado dever do voto.

Como observadores neutros, sem pertencer a nenhum partido político, sem morrer de amores por fulano ou beltrano, na análise fria e imparcial de nossa missão jornalística, observamos os absurdos mais “cabeludos” imagináveis. Temos visto a podridão moral de muito candidato que engana, ludibria, confunde a boa fé da gente de nossa terra, especialmente o bem intencionado e laborioso trabalhador do interior de São Paulo.

Temos observado intitularem-se póbres e desgraçados, exatamente os maiores “tubarões” do Brasil. Temos conhecido fantasiados “amigos da pobresa” e “compreendedores da miséria”, exatamente os que dispõem de indústrias, fazendas, casas de campo, “cadilacs” e “senhoras” em penca. Temos visto intitularem-se de póbres e miseráveis, apelarem para a miséria do homem interiorano, justamente os que vivem como lordes, nababescamente, gastando milhares de cruzeiros com mulheres devassas, em cassinos camuflados e pagando centenas de milhares de cruzeiros à gente sem emprego fixo e sem módo correto de vida, denominada “cabo eleitoral”, quasi sempre sem excessão.

Está verdadeiramente prostituída a real concepção da política nacional. Política hoje, para a maioria de nossa gente, significa embustes, trapaças, engodos, ilusões, compra de votos, promessas de empregos. E dinheiro. Sobretudo, dinheiro. Especialmente para os “cabos eleitorais” de mentalidade tacanha e inépta. De patriotismo abjeto.

O político honesto, antes consigo mesmo do que com o próprio povo, deveria ser mais leal, mais vergonhoso: deveria apontar as suas intenções, as suas qualidades, a sua folha de serviços, antes de fuçar, qual porco num chiqueiro imundo, as “sujeiras” de seus adversários políticos e concorrentes. Deveria mostrar sua (h)ombridade moral, sua personalidade, fazendo profissão de fé, procurando sobrepujar com decência as qualidades de seus adversários e não procurando diminuir mesquinhamente estes, provando, antes de tudo, que ela é pior do que o outro.

Porisso, como caboclos, cansados de promessas, saturados de embustes, fartos de engodos, cheios de demagogia barata e mentirosa, mais uma vez alertamos o eleitorado mariliense, que seu dever patriótico é votar nos candidatos locais, aqueles que são incapazes, por índole e por princípios, de agir de maneira covarde e desleal, conforme muitos por aquí estão aportando.

Extraído do Correio de Marília de 21 de agosto de 1958

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