“Bronca”, arma de otário (27 de agosto de 1958)

Esgaravatar feridas dói mesmo.

Escrevemos ontem (26/8/1958) um artiguete, acêrca da inutilidade e da falta de fundamento de todo e qualquer prognóstico eleitoral. Entendemos nosso ponto de vista, baseado em exemplos passados e fundamentado na própria razão. Principalmente hoje em dia, quando o eleitor brasileiro, em que pése a sua boa fé e a sua relativa ignorância, de módo geral não mais está ligando para legendas, para votar unicamente em homens. E ele faz bem. Partidos só interessam aos políticos à eles filiados; ao povo interessam os homens de valor e suas atitudes leais em pról dêste mesmo povo.

Pois não é que lógo de manhã, ao atendermos o telefone cá da redação, percebemos que um animal com voz masculina estava no outro lado da linha?

Pelo tamanho das patadas, pudemos antever que o cavalo éra grande. Se não éra, pelo menos arrotou ares de grandeza.

Gostamos de conversar com nossos leitores. Já temos afirmado isso várias vezes. Gostamos, principalmente, de ouvir as críticas que nos são formuladas. O interlocutor de ontem, não quiz declinar o nome, não quiz identificar-se, não quiz dizer a que partido político pertence ou simpatiza. Deixou antever, apenas, que é contra o Sr. Jânio Quadros. Com ogeriza e fobia. E como fala! Deve ter cuspido todo o bocal do telefone! Parecia um cão hidrófobo!

Não nos deixou falar. Gritou, esperneou e desligou o telefone, num gesto de refinada má educação e não menor covardia. Ficamos com dó, pois o fanatismo é alguma coisa que corróe, machuca, mata como o próprio câncer.

Vamos responder, agora, ao nosso leitor mal educado. Agora ele não nos poderá impedir de refutarmos sua ignorância e de externarmos nosso pensamento.

Não somos “puxa” do Jânio, amigo. Nem de nenhuma outra pessoa. Somos independentes em nossas atitudes e pensamentos, que praticamos e externamos quando bem entendemos, mercê do salutar (embora não completo) clima democrático em que vivemos. Somos, isto sim, partidários da decência, da honestidade, dos bons princípios, da lealdade, das ações insuspeitas, dos gestos escorreitos. Somos aversos, visceralmente aversos, aos desmandos, aos cambalachos, à hipocrisia, à pouca vergonha, à compra de consciência, à indecência política, aos excessos, ao desrespeito à Lei, etc..

Afirmamos o anteriormente dito: Não vimos, até hoje, desonestidade no Govêrno do Sr. Jânio Quadros. Reconhecemos que ele tenha seus erros, suas manias, como todo ser humano. Mas afirmamos uma coisa: De todos os governadores do Estado de São Paulo, desde 1.554, o que mais trabalhou, o que mais fez e o que menos póde ser chamado de desonesto é o atual Governador.

Imagine o leitor, que se o Sr. Jânio Quadros tivesse “rabos de palha”, o que não estariam fazendo agora os seus adversários políticos! E no entanto, nenhum deles conseguiu provar nada grave contra o ocupante dos Campos Elíseos. Buscaram, infantilmente, erros de engenheiros-funcionários ou de responsáveis por firmas vencedoras de concorrências públicas regulares, para incriminar o sr. Jânio Quadros, como responsável por um asfaltamento chamado pejorativamente de “casca de ovo”. Esmiuçaram departamentos públicos, onde existem chefes responsáveis, para citar irregularidades, que, por antecipação foram elevadas à quinta potência, tentando responsabilizar o Governo por tudo. Mas nada conseguiram.

Dissemos ontem que dos candidatos que ouvimos, nenhum nos convenceu de erros calamitosos do atual Governador. E não somos fanáticos. E não somos insinceros. Os que convivem mais pessoalmente conosco, sabem que a franqueza e a virtude de dizer o que se sente, embóra com prejuízos, é nosso cartão de identidade.

Repetimos o antes dito: Os políticos adversários do Sr. Jânio Quadros ou do sr. Carvalho Pinto tudo têm feito para encontrar um “galhinho” que póssa ser explorado. E não o encontraram. Porque não existe. Se existisse, por mais oculto que estivesse, já teria sido desenterrado. Ora se já!

Pergunte o leitor aos prefeitos do interior, de qualquer parte do Estado, aos moradores conscientes e imparciais de qualquer cidade, por menos expressiva que seja, qual o Governador ou Interventor que mais benefícios e reconhecimentos dispendeu em pról das comunas bandeirantes. Indague o leitor abusivo e malcriado que ontem nos telefonou, quem foi capaz de cumprir a Constituição e mandar pagar aos municípios, o dinheiro à estes devido por Lei e esquecido convinientemente por muitos dirigentes. Indague ainda o leitor, do Prefeito Argollo Ferrão e do Sr. Adorcino de Oliveira Lyrio, quando recebeu o município de Marília, durante o Govêrno do Sr. Jânio Quadros. Para não ir longe, pergunte aos prefeitos de Garça, Vera Cruz, Pompéia, etc..

Nós somos apologistas do trabalho e da honestidade. E ninguém poderá negar que o Sr. Jânio Quadros não seja trabalhador e honesto. Se fôra o contrário, estaríamos falando aqui, o que, com a mesma franqueza, já dissemos de outros Governadores e Presidentes. Para isso não tememos cara feia.

Para finalizar: “bronca” é arma de otário. O nosso amigo do telefone que atente bem para isso.

Extraído do Correio de Marília de 27 de agosto de 1958

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