“Férias” dos deputados (1º de julho de 1958)

Temos visto, seguidamente, os comentários pouco lisongeiros formulados pela imprensa paulistana, acêrca do fato de, ultimamente, o Palácio 9 de Julho viver “às moscas”, com muitas sessões ordinárias não podendo ser realizadas por falta de “quorum”.

E as mesmas notícias acrescentam que a “pasmaceira” reinante no plenário da Assembléia, com o número diminuto de parlamentares que alí compareceram religiosamente origina-se do fato de muitos deputados estarem viajando pelo interior, empenhados em trabalhos de reeleição.

Certa vez, ao comentarmos o fato de que determinado deputado paulista, com assento ao Palácio Tiradentes apresentava o contundente índice de ser o mais faltoso na Câmara Federal, recebemos missiva do mesmo, justificando as suas constantes ausências como decorrentes do tratamento de suas obrigações particulares. Óra, quem tem negócios particulares de monta e que não lhe permitem exercer com assiduidade as obrigações parlamentares, por certo melhor obraria se deixasse de candidatar-se a postos eletivos.

Entendemos que os que são eleitos pela vontade soberana do povo, têm para com este inúmeras e enormes responsabilidades e não é justo que fiquem zanzando por aí ou tratando de interesses particulares, enquanto pilhas gigantescas de processos que dizem respeito diréto ao interesse geral se avolumam ou discussões e votações em tempo hábil, pela falta de números nos parlamentares.

Evitar-se-iam, assim, duas falhas atualmente verificadas: a decepção pública e maiores despesas ao herário do Estado ou União, com os pagamentos dos vencimentos fixos (embóra sofram os mesmos os descontos respectivos e referentes aos “jetons”).

Porisso, é que sempre lutamos pela eleição de marilienses à Assembléia e Câmara Federal. Para que tenhamos o direito de exigir-lhes frequência nos parlamentares, cuidado e trabalhos em todos os sentidos e pontos onde estejam em jogo os interesses coletivos (e especialmente de Marília e região) e aos quais tenhamos a faculdade de chamar as atenções e cobrar-lhes serviços atinentes à responsabilidade de seus postos e aos compromissos e obrigações para com os eleitores locais.

Estamos percebendo que atualmente, grande maioria dos deputados estaduais estão em “férias”. Não as regulares, mas “férias” individuais (que se tornam automaticamente “quasi” coletivas) e tiradas “por conta própria”, para fins alheios aos interesses da próprias população.

Jornais de São Paulo tem, inclusive, publicado diversas fótos do plenário do Palácio 9 de Julho, durante o transcorrer das sessões, bem entendidos, em que a Casa apresenta o aspecto tão vazio de gente, como em rancho de pescador a ausência de móveis.

É bom a gente ir observando tudo isso, como igualmente é bom ir tambem anotando e acompanhando os deputados em “férias”, para concluir que muitos erros do passado ainda estão em tempo de ser corrigidos.

Extraído do Correio de Marília de 1º de julho de 1958

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