Traques & Bombinhas (20 de junho de 1958)

Verdade é que nós também fomos crianças e como tais tivemos igualmente as nossas predições próprias da época.

Tambem gostamos de bombinhas, busca-pés, traques e tudo o mais que se chama “fógos juninos”. Acontece que a idade vai se avançando (e) a gente vive com a cabeça cheia de atribulações próprias dos dias atuais, decorrentes da labuta para ganhar o “pão nosso de cada dia” e chega a tornar-se ranzinza, impertinente, intolerante quando ao espoucar de bombinhas que a garotada queima desenfreadamente pela cidade.

São coisas da vida, bem o sabemos; mas que chateiam um bocado, que bolem com os nervos de qualquer ser humano, isso não se discute.

A polícia proibe a soltura de determinados tipos de fogos e em determinados locais, objetivando maior tranquilidade pública. Acontece que não faltam crianças ignorantes dêsses dispositivos e tambem “marmanjões” desabusados, que fazem exatamente o contrário às determinações emanadas da autoridade policial.

Enquanto isso a gente vai levando cada susto dos diabos com as tais bombinhas que explodem sempre perto de onde a gente se encontra e sempre em condições de surpresa.

Sabem lá o que é um cidadão andar por aí, preocupado com determinado negócio ou cérta obrigação, não perceber que o engenho foi riscado e atirado por onde ele vai passar e só ouvir o estouro? A gente sente um baque assim como um bagre fisgado de repente, em que as vísceras sobem à garganta. Apesar da educação, mesmo contra a vontade, a gente não consegue reprimir o pensamento de “vomitar” alguns xingos, muito embora nem sempre e nem todos o façam.

Até nas proximidades de um hospital, vimos um dia destes o referido expediente; igualmente, nas imediações do Colégio Estadual. E não venham dizer-nos neste particular, que aquilo foram “coisas de crianças”. Foram “barbados” mesmo!

Não ha muito, êsse apreciado jornalista-escritor que é Menotti Del Picchia, abordava assunto correlato. E dizia, com aquela maneira peculiar de escrever gostoso, que os “fógos juninos” deveriam ser espocados unicamente em propriedades rurais, onde não existem hospitais, escolas, escritórios, cartórios ou redações de jornais. Seria até bom para quebrar um pouco a monotonia das regiões agrícolas.

Estamos com ele, pois temos levado cada susto ultimamente, que nem é bom contar!

Outro dia, até num cinema da cidade fizeram espoucar bombinhas. Bombinhas, pensamos: entretanto, em virtude do recinto fechado, da altura do této da casa e da natural acústica, o éco foi tão grande que mais pareceram morteiros!

Só que a polícia conseguisse apanhar pelo gasganete os “engraçadinhos” que tal fizeram, eles iriam passar uma noite das mais desagradáveis sôbre o cimento “siberiano” do xadrez!

As bombinhas estão aborrecendo um pouco. Felizmente faltam poucos dias para o fim do mês e depois, salvo as manifestações políticas ou a viabilidade de alguma “sorte grande” ou inauguração de algum outro “banco corinthiano”, passaremos mais 365 dias sossegados...

Extraído do Correio de Marília de 20 de junho de 1958

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