Conformismo, mêdo ou falta de vontade? (3 de maio de 1958)

Pela condição normal dos acontecimentos diversos, que cotidianamente se verificam entre os homens, em suas variadas fases e diversas espécies, o conformismo ocupou, entre muita gente, um lugar de destaque.

É certo que o conformismo, certas ocasiões, é sinal de previdência, compreensão, daquilo que se chama “não querer briga”. Na maioria dos casos, porém, conformismo, especialmente o acomodado, calmo, paquidérmico, bondoso, de chapéu na mão, sem ponderações, sem protestos, sem esperneias, sem nada, representa medo – medo de responsabilidade, medo de trabalho, medo de consequências, medo do próprio medo.

Isto nos ocorreu agora, ao pensarmos na vida do Marília Atlético Clube, o alvirrubro mariliense, o quadro de futebol profissional que tão dignamente foi capaz de continuar a caminhada da antiga A. A. São Bento.

O MAC morreu. Todos se conformaram. Todos menos os verdadeiros desportistas, aqueles que não participaram de diretorias, mas que foram capazes de sentir nas carnes as vibrações das contendas esportivas, porque acompanharam o alvirrubro, dentro e fóra da cidade, pulsaram com suas vitórias ou amargaram com suas derrotas.

Os que podem, devem e tem obrigação, permanecem de braços cruzados, como os conformistas acomodados, medrosos, pusilânimes.

Muita gente que aquí fez fortunas, que aquí progrediu e viu sua condição de vida prosperar, deixou que o MAC perecesse, por falta absoluta de providências, de boas ações, de trabalhos. Por medo de responsabilidade, por preguiça esportiva – se é que se póde empregar esse têrmo.

Garça deu um exemplo. Araçatuba, Tupã, Aparecida e até Monte Aprazível.

Marília, com 110 mil habitantes, vai ficar alijada dos certames oficiais de futebol profissional, por absoluta incúria, por indisfarçável e indesculpável preguiça de operosidade de muita gente.

Como passar os domingos agora?

Os que têm fazendas e automóveis, vão para suas propriedades, desfrutam do conforto salutar da zona rural; os que têm dinheiro vão para Santos e ficam de barriga para cima, estendidos nas praias. Outros vão para o Rio de Janeiro. Há até os que vão para a Argentina. Mas e o pobre mariliense, o operário, aquele que viveu com o futebol, que trabalha de sól a sól durante a semana e que espera uma oportunidade para aplaudir a representação da cidade?

Êsse terá mesmo que conformar-se com as irradiações de futebol das capitais, porque em Marília não existem homens capazes de tocar um clube de futebol profissional, por modesto que seja. Todos falam, todos apregoam “boa vontade”, mas todos “afinam” quando é chegada a “hora da onça beber água”.

É triste. O esporte bretão é o único, até agora, que domina, que está no coração das massas. E as massas têm direito a um divertimento. O futebol é necessário, é preciso, da mesma maneira que o pão é para o estômago e a oração para a alma.

Ainda há tempo. Só querer.

Só um homem pode resolver o caso do MAC: Alfredo Inácio Trindade. Entretanto, êsse homem não é adivinho e não sabe que milhares de marilienses esperam, decepcionados, providências de comodistas e falsos esportistas da cidade.

O MAC morre, mas não por falta de apoio público. É uma infâmia declarar-se isso, quando o público não foi consultado, não foi chamado a colaborar. Não foi chamado, porque os “grandões” do futebol mariliense fizeram muitas encenações e não foram capazes de realizar nada de positivo.

Não se culpe a “torcida” pelo desaparecimento do MAC. Culpem-se os “falsos esportistas” marilienses... que temos em abundância entre nós.

Infelizmente.

Extraído do Correio de Marília de 3 de maio de 1958

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