O drama nordestino (11 de abril de 1958)

Relato-nos a imprensa o drama punjente dos nordestinos, cuja vasta região foi grandemente assolada pela sêca, criando um caos moral dos mais lamentáveis em nosso país.

Cenas dramáticas, foram delineadas pelos repórteres especializados, documentando os fatos tristíssimos.

Foram anunciadas diversas providências, mas parece que mais rapidamente foram postas em prática dizem respeito à iniciativa privada, como sempre acontece no Brasil, uma vez que as medidas de caráter oficial cavalgam sempre a passo de tartaruga.

Acontecimentos dos mais inéditos foram verificados em diversos arraiais e cidades. Assaltos de fome e de desespero, que não pouparam nem mesmo delegacias de polícia ou prefeituras municipais.

O fato, em que pese o seu lado doloroso, é mais um exemplo a vir juntar-se ao grande rosário de necessidades governamentais do Brasil Gigante. Abertura de açudes e estradas, no nordeste, reclamam ações do Govêrno Federal, sem demagogias e sem organizações de “comissões de estudos”.

As populações sofrem, muitas vezes sem culpa própria. É o caso agora verificado com o martírio dos nordestinos vitimados pela sêca cruel, que procuram assaltar e abandonar seus pagos, em busca de sobrevivência.

O brasileiro, regra geral, é aquilo que se canta no rifão: “deixa como está para ver como fica”. Passado êsse período infernal de sacrifícios dos fragelados do nordeste, principiarão a cair as “chuvas de abril”. Depois, como nos anos anteriores, a situação será em parte atenuada. Aí, se vingarem os máus exemplos pretéritos, voltaremos a ficar na mesma, para a infalibilidade da repetição dos atuais fatos, já no ano que vem.

Desde que nos conhecemos por gente, temos ouvido a mesma bazófia demagógica de homens do govêrno. Todos têm clamado por uma só boca, os problemas do nordeste, as necessidades de estradas, o incentivo e financiamento à lavoura, o apôio ao homem do campo, a luta contra o analfabetismo, a abertura de estradas, etc., etc..

E temos constatado que quase todos os eleitos têm feito a mesma coisa: nada ou quase nada.

Um quadro desolador presenciou o país nos últimos dias, com os viandantes em andrajos, assaltando e fugindo à desdita. Temos em nós, que o problema, se não pudesse ser totalmente solucionado – uma vez que é complexo e difícil –, pelo menos poderia apresentar alguma coisa traduzida em mais acêrto, no que tange às providências governamentais, com respeito ao cuidado e amparo ao problema das secas do nordeste.

Só o govêrno pode ser responsável pelo fato ou pelas suas graves consequências, como chefe executivo de tôda a nação. Obras de açudes iniciadas há longos anos, não foram concluidas até a presente data, num sinal de menosprezo patente aos irmãos do nordeste.

A situação apresenta formas gravíssimas e deve, de pronto, merecer, não só atenções e providências burocráticas, mas sim ações diretas “in loco”.

Enquanto tais medidas não forem praticadas, teremos no futuro as mesmas repetições do presente, fatos já conhecidos através de consumação passada.

Extraído do Correio de Marília de 11 de abril de 1958

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