Votos & Candidatos (19 de março de 1958)

Não há negar que fomos invadidos por uma espécie de desânimo ou desilusão, quanto à série de artigos por nós escritos no passado, acêrca da necessidade de elegermos um candidato mariliense no próximo pleito.

Nossa mutação, dando o dito por não dito, abandonado a trincheira, poderia muito bem ter servido de motivos de escárnio ou indiferença para grande parte do eleitorado local, parte essa que de amor pela cidade nada apresenta e que se muda, com armas e bagagem, para o primeiro “doutor promessa” que por aqui se apresente. Lutamos pelo apôio a dois candidatos locais, no máximo. Surgiram mais e aparecerão outros, certamente. Afóra os alienígenas, é claro.

Só tivemos a respeito, uma única intenção: lutar para que Marília não continui no seu permanente e crônico estado de orfandade nos parlamentos. Nem todos nos compreenderam e gastamos grande parte do “sal da janta”. Quando percebemos que iríamos pregar no deserto, porque pudemos notar que o propalado amor por Marília, difundido à larga por muita gente, nada mais tem sido do que u’a máscara de hipocrisia, para acobertas interêsses próprios de espirito pessoal ou aventureiro, saímos da arena.

Pretendíamos mesmo não mais voltar ao assunto, conforme dissemos. Pretendíamos e estávamos firmes nêsse propósito. Não poucos pedidos temos recebido, muitos de políticos locais, inclusive, para o reavivamento da questão. Sem dúvida, os que nos procuraram, são aquêles que ainda fazem parte do exército da sensatez, aquêles que pulsam por Marília e que comungam idênticos pensamentos aos nossos.

Não diremos que a contragosto, mas de certo modo algo desiludidos, voltamos ao assunto. Em atenção especial aos amigos que nos endereçaram ditos apêlos. Unicamente.

Talvez o fato possa representar ainda uma clarinada de alerta para os eleitores que trocarão o voto contra promessas de empregos ou de vantagens pessoais, em detrimento dos próprios interêsses de Marília. Talvez não, porque o caso chega a aproximar-se da questão real de amor por Marília – coisa que muita gente exulta fingidamente em lugares públicos, de modo hipócrita e sem sentir.

Parece-nos que em nossa cidade ainda perdura algum resquício daquêle espírito de aventura originário dos primórdios da região.

Muita coisa que pode ser feita, deixa de sê-lo, por falta absoluta de providências em tempo hábil; mais resumidamente, por carência de interêsses imediatos.

Dissemos, não há muito, que no setor de política regional, Marília vem pecando seguidamente, ao isolar-se de suas irmãs da Alta Paulista. Tal fato já repercutiu, dolorosamente, em outros centros adjacentes, fazendo subir à tona da realidade, a mágua sentida contra nossa gente, politicamente falando.

Por falta de ações ou inépcia mesmo, temos perdido muitas coisas. Por falta de representantes legislativos, temos deixado de receber condições devidas por fatos e direitos. Por falta de iniciativas, temos deixado escapar melhoramentos imprescindíveis ao progresso de Marília e as necessidades de sua gente.

Perdemos a Escola de Tratoristas, perdemos a questão da industrialização de Sojas, quase perdemos a Escola Artesanal e perderemos fatalmente a pretendida Escola Industrial. A tão ansiosamente Faculdade de Filosofia, fruto de lutas de mais de uma década, ainda está na balança do dúbio objetivismo, quanto a sua realidade total.

Até o futebol profissional perdemos a pouco. Tudo por falta de ação, de coesão, de esforços.

E continuaremos a perder tudo o mais, se mantivermos a mesma orientação, relativa ao tradicional hábito mariliense, manifestado pela indiferença eleitoral. Dispender votos em pról de candidatos de fóra, dêsses que só sabem da existência de Marília nas épocas de eleições, tem sido um êrro gravíssimo, que ninguém poderá refutar.

Breve principiarão a surgir os aventureiros, com seus discursos pré-fabricados. Promessas surgirão. Dinheiro também. E não faltarão em Marília, como jamais faltaram no pretérito, os falsos marilienses, que se submeterão qual carneirinhos, aos interêsses dos “doutores promessas”, visando interêsses próprios e olvidando Marília e sua gente.

O tem(p)o dirá, depois, se tínhamos ou não razão.

Extraído do Correio de Marília de 19 de março de 1958

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