Novo “conto do vigário” (15 de março de 1958)

Lemos num jornal de São Carlos, uma reportagem completa acêrca de nova modalidade de “conto do vigário” aplicado naquela praça, de cuja malandragem resultaram prejuízos sem conta para o comércio sancarlense.

Em resumo, o fato passou-se mais ou menos assim:

Um cidadão de aparência distinta, com ar de um protótipo “gente bem”, desconhecido na cidade, alugou uma casa. Pagou adiantadamente o aluguél e tomou posse da residência.

Num sábado, depois de fechados os bancos da cidade, dirigiu-se a uma loja comercial, especializada em artigos elétricos e de refrigeração. Adquiriu u’a moderna geladeira, pagando à vista, com cheque, ordenando a remessa urgente da compra para determinado endereço (que era a casa receém-alugada). Fez o mesmo em outras diversas casas comerciais. Numa, comprou móveis de quarto, noutra de sala de jantar, noutra de sala de jantar, noutra de sala de visitas, rádio-vitrola, enceradeira, utensílios de cozinha, etc..

Comprou em várias casas, sempre pagando com cheques, tudo o que de mais conforto e de melhor qualidade seja possível imaginar para mobiliar completamente e com luxo uma residência. Comprou tudo e de tudo, porque na casa citada não existia sequer um sacarrolha.

O total da compra atingiu algumas centenas de contos de réis, conforme é fácil de calcular-se.

Em todos os estabelecimentos comerciais, realizou o mesmo processo: pagou com cheques.

Como dissemos, as “transações” foram efetuadas num sábado e os comerciantes só poderiam apresentar os cheques para desconto na segunda feira, ou seja, quarenta e tantas horas depois.

Ninguém suspeitou de nada e por certo, muitos comerciantes ficaram satisfeitos, pois não é sempre, no comércio varejista, que se realizam transações de grande vulto, “na ficha”. Todas as mercadorias, de acôrdo com as ordens do comprador, foram entregues no endereço referido, urgentemente. Quer dizer, antes que o comércio fechasse, em seu horário normal das 18 horas, a casa se encontrava abarrotada de móveis e utensílios novos, modernos e de apurado gosto, além dos excelentes preços.

A “bomba” estourou por simples acaso. Um empregado de uma casa comercial que havia vendido artigos ao citado “senhor distinto”, passou meramente à noite, defronte a residência onde fizera a entrega de móveis. Como empregado categorizado, sabia do processo da transação, isto é, do pagamento contra cheque. Estranhou o fato de que um caminhão, com chapa de outra cidade, ali estivesse carregando todo o material comprado durante o dia, inclusive o vendido pela casa da qual trabalhava. Estranhou ainda mais em não ver no local o “senhor distinto”. Zeloso, procurou imediatamente seus patrões, pondo-se ao par do acontecimento. Êstes movimentaram-se rapidamente, entrando em contacto com outros comerciantes que se encontravam nas mesmas condições. Aí chegou a vez da polícia, mas o “senhor distinto” não foi encontrado e ninguém sabe, até hoje, onde está, nem quem é.

Pelo modo com que se tentou praticar o “golpe” pode-se deduzir que a malandragem é velha, que seus praticantes não são “calouros” na “arte”.

O fato, conforme dissemos, passou-se em São Carlos e dêle tivemos conhecimento através de um jornal daquela terra. Comentamo-lo, com o único objetivo de colaborar com o comércio mariliense e alertar os comerciantes locais, para a eventualidade de qualquer possível e futuro “conto do vigário” dêsse jaez.

Íamos esquecendo: circulam rumores de que “golpe” semelhante teria sido aplicado em Marília, ainda sem ter “estourado” publicamente...

Extraído do Correio de Marília de 15 de março de 1958

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