A Eterna Esquecida (5 de março de 1958)

Não há negar que ultimamente Marília conseguiu encontrar, no âmbito do Poder Estadual, muitos reconhecimentos às suas reivindicações. Isto aconteceu mais acentuadamente, no atual govêrno. Entretanto, mistér é que se diga, muita coisa de direito ainda está sendo negada à cidade que carreia verdadeiras fortunas para os cofres do Estado e da União.

Se o Executivo bandeirante não titubeou em conferir aos marilienses uma certa soma de direitos (sem nenhum favor), o mesmo não acontece no que tange ao órgão federal. A União muito deve à Marília e nada paga.

Vimos, recentemente, mais um exemplo dêsse jaez, a vir juntar-se e aumentar o já grande rosário de ingratidões para com Marília.

A questão das verbas federais para a pavimentação de diversos aeroportos, é assunto que encerra um abominável descaso ao povo mariliense. É tão grande a “mancada” a respeito, que temos a certeza de que o deputado Ulisses Guimarães, que sempre demonstrou ser amigo de Marília, deve estar, honestamente, aborrecidíssimo.

O que mais nos aborrece e chega a causar-nos vergonha – e náuseas –, é que tivemos, não há muito, comunicação oficial de atenções federais a respeito.

Ante isso, uma dúvida: brincaram com a paquidérmica boa vontade dos marilienses antes, ou escarneciam agora?

Marília é mesmo a eterna esquecida. Eterna esquecida não é bem o têrmo, porque nossa cidade é sumamente lembrada pelos políticos profissionais, pelos embusteiros e “paraquedistas”.

Estamos praticamente às vésperas das eleições. Dentro em breve, verdadeiras matilhas de falsos amigos de Marília, aqui estarão distribuindo dinheiro para alguns “cabos eleitorais” e promessas de empregos para uma série de eleitores, que, em primeira análise, são maus marilienses.

A culpa dêsse descaso por Marília e seu povo, não deve ser totalmente imputada aos maus representantes de nossa gente. A culpa principal cabe, sem sombra de dúvida, a nós próprios, que nos deixamos “levar no bico” no passado, indo na “conversa” dos politiqueiros contumazes. O êrro primordial nós, os marilienses, cometemo-lo. Quando não sabemos escolher nossos lídimos representantes, consignando votos à gente de fora, gente que só se lembra de Marília em épocas especiais.

Dizem que quanto mais se apanha, mais se aprende. O mariliense é uma exceção; deve ter os traseiros calejados de tanto apanhar. Mas é teimoso e não aprende mesmo.

Não faltam exemplos para corroborar o que estamos afirmando. Essa questão da verba para a pavimentação do aeroporto não é a primeira – e por certo não será a última. Ninguém ignora os dissabores que já passamos e as desilusões que sofremos. Também para ninguém é segredo o motivo dessas consequências. O êrro já foi feito no passado, e, pelo jeito, tende a repetir-se no futuro.

Não temos, portanto, razões para gritar. Não estamos “à calavo”. Ninguém é borracha para apagar nossos próprios êrros.

É tempo, entretanto, de abrir os olhos. É tempo de solucionar, pelo menos em parte, os êrros do passado.

Enquanto Marília não for suficientemente capaz de escolher seus legítimos advogados, elegendo candidatos da terra, assim continuaremos. Enquanto o mariliense continuar dando crédito ao palavreado político pré-fabricado e ensaiado, desses falsos amigos de Marília, assim continuaremos.

O caso já não é mais de reconhecimento, de necessidade; é de patriotismo, e, até certo ponto, de vergonha.

Sinceramente: existem políticos e eleitores marilienses, que só dando com um gato morto...

Extraído do Correio de Marília de 5 de março de 1958

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