CTB: dois pesos e duas medidas (8 de fevereiro de 1958)

Nosso escrito de ante-ontem (dia 6/2/1958, ao qual os editores deste blogue não tiveram acesso, seja porque o exemplar em questão sumiu, foi queimado ou destruído por enchente ou alagamento) trouxe-nos inúmeras manifestações de apreço. Significa que o objetivo colimado, em alertar mais ainda os poderes públicos locais, foi atingido.

Realmente, somos contrários à aprovação da proposta da CTB aos marilienses. Sendo aversos ao proposto, não representa que seremos impecilho, porque a última palavra será dada pelos componentes da “mesa redonda” de terça feira vindoura, na Associação Comercial. Sob os costados de seus integrantes poderão pesar, tanto as consequências mediadoras que consultem os interesses gerais, como as responsabilidades de erros e seus resultados futuros. Nosso ponto de vista é pessoal, baseado na lógica dos próprios fatos. A Companhia Telefônica Brasileira jóga com dois baralhos – apresenta dois pêsos e duas medidas. Senão, vejamos:

No Rio, intenta medida análoga à pretendida em nossa cidade. Lá o custo de cada novo aparelho telefônico é de 30 mil cruzeiros (se não estamos equivocados). Tal importancia deve ser amortizada em prestações mensais. No entanto, no Rio, o dinheiro não será dado “de mão beijada” como a CTB pretende em Marília. Lá os 30 mil cruzeiros ficarão representados pela compra de ações da própria Cia., proporcionando participação nos lucros da sociedade, de conformidade com o preceito legal que regulariza e rege as leis de sociedades comerciais. Isso é uma coisa.

Em Marília, “a madeira” é outra: A CTB quer enfiar a mão no bolso dos marilienses. Os 22 mil cruzeiros pretendidos para cada novo pedido de ligação telefônica serão “dados”; nem emprestados, nem em pagamento de ações. Verdadeiro absurdo! Irretorquível abuso!

Em Araraquara, a CTB usou outro método: Para a mudança dos telefones magnétos pelos automáticos, firmou convênio com a municipalidade (já em vigor), nas seguintes bases: Os assinantes atuais, para efeito dessa mudança de aparelhos, pagam Cr$ 6.500,00 (em prestações mensais). Os novos pedidos custam Cr$ 12.000,00, tambem em prestações. Acontece que tais importâncias representam, de conformidade com dispositivo contratual firmado com a municipalidade araraquarense, a compra dos aparelhos e o direito de transferência e venda para terceiros. Notem bem: um assinante paga os 12 mil cruzeiros pelo telefone, se, por motivo de mudança ou outro, pretender desfazer-se do número, póde vende-lo a outra pessoa, sem nenhum impedimento da Cia. porque o telefone (aparelhos e direitos) passa a ser propriedade do assinante.

As bases do contrato da empresa com a Prefeitura de Araraquara, pensamos, são as que melhor consultam os interesses dos marilienses. À respeito, informamos que providenciamos, atrás de nosso confrade “O Imparcial”, u’a minuta do aludido contrato. Estamos aguardando tal documento e “torcendo” para que chegue às nossas mãos até a próxima terça-feira, época da efetivação da propalada “mesa redonda”.

Já analisamos devida e convenientemente a proposta da CTB, de todo imprópria e contrária aos interesses de nosso município, pela fórma abusiva que apresenta. Só depois de amealhar vinte e poucos mil contos de réis do público local, é que a emprêsa irá tomar as providências necessárias para os pedidos de licença de importação dos apetrechos, necessários ao aumento dos circuitos. Da época dos primeiros recolhimentos por parte dos interessados (se aprovada a dita proposta), até a completação da medida, não decorrerão menos de três anos. A Cia., sem oferecer nenhuma garantia, girará com o dinheiro dos marilienses, que não renderá juros, que não representará compra de ações e que não será devolvido! Em nossas cabeças, tal idéia não cabe.

Agora a CTB vai transformar em automáticos os telefones magnétos de Lins, aumentando, logicamente, o número dos aparelhos. Qual será a medida que a CTB utilizará contra o povo linense? Possivelmente lançará mão de uma outra força, uma vez que diferem frontalmente as exigências em diversas cidades. Isto é, a CTB procura “acertar” cada município de acôrdo com “a cara do freguês”. E, se a afirmativa acima tiver razão, não haverá negar a CTB está desconsiderando bastante o público mariliense. E suas autoridades constituidas.

A Companhia Telefônica Brasileira não têm, para com Marília e seu povo, nesse particular e nessas condições, pretensões de bem servir. Apresenta, antes de tudo, interesses comerciais próprios, desgrudando-se de sua primordial finalidade servível. Repetimos que jamais pretenderiamos a melhoria pleiteada, necessária ao público e óra proposta, em condições “de pai p’ra filho”. Tampouco seriamos demasiadamente ingênuos, para acreditar que uma firma monopolizadora de qualquer setor de atividade, pudesse mesmo traduzir em 100% os benefícios ao público em detrimento dos próprios interesses. Mas não é justo ainda, que êsse público, seja ainda mais sacrificado, colaborando paquidermicamente para o enriquecimento de uma firma, que, à guisa de servi-lo, acaba prejudicando-o abusivamente.

Aguardemos, portanto o desenvolver da mencionada assembléia de terça feira, para conhecermos a decisão.

Sinceramente gostariamos de estar equivocados nesse ponto de vista. Infelizmente não estamos. A CTB tem dois pesos e duas medidas. E, nesse “jogo”, a mesma está com o “séte-cópas” na mão. Vamos jogas com o “zápe”?

Extraído do Correio de Marília de 8 de fevereiro de 1958

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