Pedintes Mirins (16 de janeiro de 1958)
Jamais deixamos de compadecer-nos, daqueles que, por necessidade, estendem a mão à caridade pública. Temos sobejas razões para isso.
Combatemos a malandragem e o vício de mendigar, useiro e vezeiro por muito gente. Para ninguem constitui segrêdo, o fato de que muitos imploram caridade, mesmo sendo capazes de exercer uma determinada atividade.
Não raro, a imprensa das grandes capitais, localiza e aponta à Polícia, casos como o que estamos referindo.
Não ha muito, um casal de jornalistas cariocas, dispôs-se a executar, com o consentimento da Polícia, um empreendimento de falsa mendicância, a fim de conhecer o espírito caritativo do povo da Capital Federal. Colocaram-se em pontos diferentes, perfeitamente caracterizados. Ela, maltrapilha, envergando uma sujeira artificial, desgrenhada, de óculos pretos e com uma criança conseguida por empréstimo num orfanato; ele, tambem caracterizado, com uma posta de fígado de vaca amarrada na perna, aparecendo sangue coagulado; ambos, estendendo a mão e entoando a conhecidíssima e tradicional cantilena de “uma esmolinha”. Durante seis horas consecutivas, os dois profissionais da imprensa executaram tal proceder. Notaram que os olhares de compaixão que receberam, foram simplesmente rápidos e que a maioria dos transeuntes “largava” logo um trocado, com um sinal de desobrigação, prosseguindo caminho. No fim do tempo pré-estabelecido, juntaram as “férias”: cinco mil e tantos cruzeiros!
Com o material obtido, realizaram a reportagem posteriormente, inclusive com a divulgação de clichês. Objetivaram alertar o público, de que uma grande porcentagem dos pedintes exerce a profissão por simples vício ou conveniência.
Isso também já aconteceu em São Paulo; somente que o reporter que empreendeu tal missão fê-lo por conta própria.
Em Marília, grande é o número de pedintes e temos cá as nossas dúvidas, se todos, realmente todos, são verdadeiramente necessitados e impossibilitados de exercer outras obrigações. Entretanto, o que causa espécie, na cidade, é o número assustador de pedintes mirins. De ambos os sexos e de tenra idade. Muitas vezes, ficam pedindo esmolas ou “auchílios”, até tarde da noite. E insistem de módo comovedor; tal fórma que raras são as pessoas que não atendem tais solicitações. Correm atrás da gente; cercam os transeuntes.
Tais fatos sucedem em pleno centro e estão a chamar as atenções do Comissariado de Menores. Urgem providências coibitivas a respeito, pelo menos durante a noite e em horas avançadas. Faz-se mistér uma sindicância dêsse Poder, junto aos pedintes mirins da cidade, cujo número é constrangedor.
Deixamos o registro, com vistas à quem de direito.
Extraído do Correio de Marília de 16 de janeiro de 1958
Combatemos a malandragem e o vício de mendigar, useiro e vezeiro por muito gente. Para ninguem constitui segrêdo, o fato de que muitos imploram caridade, mesmo sendo capazes de exercer uma determinada atividade.
Não raro, a imprensa das grandes capitais, localiza e aponta à Polícia, casos como o que estamos referindo.
Não ha muito, um casal de jornalistas cariocas, dispôs-se a executar, com o consentimento da Polícia, um empreendimento de falsa mendicância, a fim de conhecer o espírito caritativo do povo da Capital Federal. Colocaram-se em pontos diferentes, perfeitamente caracterizados. Ela, maltrapilha, envergando uma sujeira artificial, desgrenhada, de óculos pretos e com uma criança conseguida por empréstimo num orfanato; ele, tambem caracterizado, com uma posta de fígado de vaca amarrada na perna, aparecendo sangue coagulado; ambos, estendendo a mão e entoando a conhecidíssima e tradicional cantilena de “uma esmolinha”. Durante seis horas consecutivas, os dois profissionais da imprensa executaram tal proceder. Notaram que os olhares de compaixão que receberam, foram simplesmente rápidos e que a maioria dos transeuntes “largava” logo um trocado, com um sinal de desobrigação, prosseguindo caminho. No fim do tempo pré-estabelecido, juntaram as “férias”: cinco mil e tantos cruzeiros!
Com o material obtido, realizaram a reportagem posteriormente, inclusive com a divulgação de clichês. Objetivaram alertar o público, de que uma grande porcentagem dos pedintes exerce a profissão por simples vício ou conveniência.
Isso também já aconteceu em São Paulo; somente que o reporter que empreendeu tal missão fê-lo por conta própria.
Em Marília, grande é o número de pedintes e temos cá as nossas dúvidas, se todos, realmente todos, são verdadeiramente necessitados e impossibilitados de exercer outras obrigações. Entretanto, o que causa espécie, na cidade, é o número assustador de pedintes mirins. De ambos os sexos e de tenra idade. Muitas vezes, ficam pedindo esmolas ou “auchílios”, até tarde da noite. E insistem de módo comovedor; tal fórma que raras são as pessoas que não atendem tais solicitações. Correm atrás da gente; cercam os transeuntes.
Tais fatos sucedem em pleno centro e estão a chamar as atenções do Comissariado de Menores. Urgem providências coibitivas a respeito, pelo menos durante a noite e em horas avançadas. Faz-se mistér uma sindicância dêsse Poder, junto aos pedintes mirins da cidade, cujo número é constrangedor.
Deixamos o registro, com vistas à quem de direito.
Extraído do Correio de Marília de 16 de janeiro de 1958
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