J. K. contra os aumentos! (14 de janeiro de 1958)

Existe mesmo motivo, para a exclamação no epígrafe dêste artigo. O Presidente da República insurgiu-se, de modo contrário, às pretensões de novos aumentos de preços de lubrificantes e trigo.

Numa exposição de motivos apresentada pelo Conselho Nacional do Petróleo, requerendo providências para alterações nas tarifas de lubrificantes, exarou o sr. Juscelino Kubitschek o seguinte e incisivo despacho:

- “Não concordo, em absoluto, sob pretexto algum, com o aumento de lubrificantes. Seria ferir frontalmente a política do govêrno, no sentido de impedir o aumento do custo de vida. Providencie-se para que isso não se verifique”.

Numa outra petição de exposição de motivos, elaborada pelo Instituto de Resseguros, justificando necessidade de majoração do preço do trigo em grão, assim se manifestou em despacho, o Chefe do Govêrno:

- “A política do govêrno só tem um objetivo: impedir a alta do custo de vida. A providência que o Instituto tomou, aumentando as taxas de seguro para o trigo em grão, redundará em aumento do custo do pão. Recomendo expressamente o reexame do assunto, a fim de que não sofra êsse produto indispensável ao povo, qualquer alta no preço”.

Através desta mesma coluna diária, em têrmos e respeitando a autoridade constituída, não temos poupado oportunidades de censuras ao atual regime governamental, por motivos diversos, delineados convenientemente nas ocasiões.

Justo é também que, neste ensejo, manifestemos nosso contentamento pelas decisões referidas, augurando por outro lado, que iguais providências possam e venham a ser tomadas em diversos outros setores de nossa economia, com providências urgentes, de igual jaez. Sabemos todos, que, em diversos campos comércio-industrial de nossa vida brasileira, medidas coibitivas de igual porte estão, de há muito, sendo reclamadas. Ninguém ignora, que a fiscalização e vigilância governamentais, sob diversos prismas, frente aos órgãos ou empresas competentes (ou intermediários), encarregados da distribuição de gêneros e artigos de consumo públicos, e a melhor maneira de colocar-se, pelo menos parcialmente, um dique ao rosário de descalabros (e muitas vezes abusos), que se verificam, à miude, em detrimento direto contra os interêsses de tôda uma população.

É preciso, entretanto, ter braço forte e contar, de antemão, com uma colaboração precisa e honesta, das pessoas que, de um ou outro modo, colaboram com o próprio govêrno. Senão, nada feito.

Infelizmente, tal fato, nem sempre tem se concretizado no Brasil. A mentalidade nacional, em grande parte, pensa com o estômago, desconhecendo a fome ou a miséria alheias e com as cabeças cheias de azonaidos sonhos de cifrões. Desgraçadamente.

Já citamos, não há muito, um exemplo dignificante a respeito, após um contacto casual que tivemos, no Rio, com um membro da famigerada COFAP. Os leitores devem, por certo, recordar a referência.

O fato é que o atual Presidente da República, pelo que se percebe, está tentando acertar, embora não tenha isso ainda conseguido. Em todo o caso, valem as boas intenções. Oxalá o sr. Juscelino Kubitschek tenha forças e ânimo suficientes, para continuar tomando medidas como as citadas. E, olhem, existem inúmeros setores onde providências semelhantes, estão sendo grandemente reclamadas.

Esperemos que o sr. JK possa perceber isso!

Extraído do Correio de Marília de 14 de janeiro de 1958

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