Um Banco de sangue para Marília (7 de novembro de 1957)

Não há (como) negar, que nosso apreciadíssimo colaborador, reverendo Álvaro Simões, ao utilizar-se do espaço diário que prazerosamente lhe é reservado nêste jornal, do mesmo só se tem valido para patrocinar boas causas, em favor direto da coletividade, e, em especial, dos desamparados e necessitados sob qualquer forma.

Como se já não bastassem as inúmeras vitórias conquistadas nessa caminhada, em decorrência de sua brilhante e bem intencionada pena, o incansável cidadão, sempre preocupado com o bem estar comum, olvidando seus próprios interêsses, vem de encetar agora uma das mais nobres e dignas, campanhas – a criação de um Banco de Sangue para Marília.

Já dissemos anteriormente, repetidas vezes, que as intenções desta coluna diária objetivam o destaque de acontecimentos mais importantes da ocasião, relacionados preferencialmente com a cidade ou povo mariliense. Por isso, aqui estamos para colocar no devido relevo, essa elogiável iniciativa do mencionado articulista, paradigma como sempre, encomiosa como outras inúmeras campanhas hoje vitoriosas.

Efetivamente, a idéia, que agora toma corpo e atrai atenções, pela importância que representa, dentro do sentido verdadeiramente humano, deve merecer, como está merecendo, as atenções gerais. O significado da existência de um Banco de Sangue numa cidade, é alguma coisa de majestoso, pela importância representativa que ostenta, em relação com a própria vida humana, principalmente tendo em vista que só se recorre a estoques de plasma e sangue em casos extremos ou delicados, para salvamento de vidas humanas.

Nos conta a experiência médica e as circunstancias mais variadas, que muitas vidas já se perderam, devido a falta, em certas ocasiões, do precioso sangue destinado a alimentar organismos debilitados. Todos sabem, que o sangue é classificado em diversos tipos, os quais nem todos se casam entre si e que a transfusão só é praticável em obediência aos mesmos, isto é, sendo desaconselhável e perigoso a injeção de um tipo de sangue diferente no organismo de quem possui uma qualidade superior. Se tal não fosse, por certo, o problema das transfusões de sangue não significariam as dificuldades e os riscos que apresentam; bastava numa emergência dessas, uma transfusão qualquer e o assunto estaria clinicamente resolvido. Acontece que o selecionamento dos tipos de sangue demandam tempo e as circunstâncias das necessidades dêsse jaez, regra geral não podem esperar. Eis, como finalidade primordial, o desiderato do Banco de Sangue: a existência do estoque de plasma, devidamente classificado e pronto para uso urgente. Outro ponto, também importante, será a sua aplicação gratuita ou quase, aos necessitados e impossibilitados de realizar o pagamento devido. Para isso, devem os marilienses que podem e desejarem, constituírem-se em doadores gratuitos.

Se não houver coesão real e efetiva em torno de uma idéia como essa lançada pelo reverendo Simões, então, poderemos dizer que estamos verdadeiramente perdidos e que o sentimento de humanidade dos marilienses é um mito. Por isso, esperamos que a concretização da iniciativa seja um fato exemplar e digno, dentro de breves dias.

Extraído do Correio de Marília de 7 de novembro de 1957

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