Liberdade e violência (28 de novembro de 1957)

Não faz muito tempo, um famoso jornalista francês que visitou nosso país, teve a oportunidade de manifestar-se verdadeiramente abismado com a destemoridade da imprensa brasileira. “A imprensa do Brasil é a mais destemida e violenta do mundo” – declarou o citado profissional de imprensa, por sinal um nome de capacidade e projeção internacional.

Para nós, habituados já ao atual “modus vivendu” da imprensa nacional, a afirmativa em apreço deu-nos um pouco que pensar. Isto, porque, em nosso modo de ver as coisas, analisando os fatos sob o prisma de imparcialidade, neutralidade e independencia – bandeira norteadora da boa imprensa nacional – habituamo-nos a encarar a decorrência natural da vida de nossa imprensa, como perfeitamente normal e idêntica à de todo o mundo. Pelas declarações do diretor do “Paris Match”, no entanto, pudemos perceber que nem toda a imprensa nacional é aquilo que se póde e deve considerar como “boa imprensa”.

Ainda ontem (27/11/1957), um amigo nos exibia duas revistas da atualidade: “Maquis” e “Confidencial”. Numa vista d’olhos que passamos sobre algumas páginas dos citados órgãos, deparamos com algumas reportagens de arrepiar os cabelos!

Ao termos conhecimento dos citados escritos, nos ocorreu então a lembrança da afirmativa do diretor do “Paris Match” – “a imprensa do Brasil é a mais violenta do mundo”. Positivamente o é. Não toda, mas de módo geral. Conta-nos a própria história, uma infinidade de acontecimentos infaustos e mesmo crimes de morte, como consequência de determinadas publicações. Volta e meia dão entrada nas varas judiciais de diversas comarcas do país, pedidos de processamento de pessoas ou jornalistas, em virtude de conceitos emitidos e julgados injuriosos pela parte ofendida.

Não vai aquí (n)esta modesta crônica, nenhuma apreciação aos artigos citados e publicados em “Marquis” e “Confidencial”. Apenas, relembrando os conceitos emitidos pelo jornalista gaulês, ficamos com “a pulga atrás da orelha” – as assertivas do diretor do “Paris Match” pódem, até certo ponto, ser interpretadas como “desorganização”, para determinados órgãos de nossa imprensa. Tal pensamos, porque não podemos compreender o vocábulo “violência”, como adjetivo qualificativo numa verdadeira folha de informação pública.

Parece que o diretor do “Paris Match” tem alguma razão.

Extraído do Correio de Marília de 28 de novembro de 1957

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