Esporte e amor à Marília (19 de novembro de 1957)

Ainda está servindo de “prato do dia”, o acontecimento esportivo da última sexta-feira. Não a realização da peleja amistosa entre o Vasco da Gama e o Brasil Bandeirantes, propriamente dita, mas sim o rumo que as circunstâncias tomou.

Muitos pormenores e alguns nomes relacionados com o caso em téla são de todos conhecidos.

Existe, todavia, um fato que deve merecer atenções públicas. É o sentimento de zelo e amor à Marília, demonstrado na hora propícia por alguns cidadãos marilienses, muitos dos quais nem poderiam ser considerados esportistas em toda a extensão do vocábulo. Alguns cidadãos, numa demonstração de cuidado pela repercussão desfavorável que surgiria fatalmente em torno do nome de Marília, praticaram uma atitude salvadora, procurando e resolvendo o “impasse” criado pela decorrência de uma irreflexão (sem negar bem intencionada) de uma só pessoa.

O problema foi contornado de módo satisfatório, com a sua responsabilidade pesando sobre os ombros de duas outras pessoas “que nada tinham a ver com o peixe”. Ha quem diga que tais cidadãos fizeram mal e que deveriam ter deixado que “o pau quebrasse sobre os costados” do autor diréto do acontecimento. É um módo errôneo de pensar, uma vez que o reflexo do cometimento, as consequências do fato e a publicidade adversa que surgiriam fatal e inevitavelmente em redor da questão, não iriam destacar um nome ou um clube de futebol, mas sim pesar contra os marilienses em geral, suas autoridades em particular e contra o nome de Marília em especial.

Está certo de que ninguem fazer o papel de borracha, apagando os erros alheios. No entanto, existem circunstâncias, que, pelo modo com que se desenrolam, arrastam tambem, como as águas de um rio em enchente, pedras e vegetais que se encontram nas imediações do leito. Isto sucedeu com respeito ao acontecimento esportivo de sexta-feira última, quando, não por se encontrarem nas proximidades do palco desse desenrolar, mas sim por uma questão de amor e zelo ao nome de Marília e do povo mariliense, algumas pessoas deixaram-se ir no roldão, impedindo consequências mais graves e infautas.

Agora, duas pessoas estão arcando com um compromisso inesperado e sobremodo pesado, que contraria frontalmente seus interesses particulares. Fizeram-no movidos exclusivamente em defesa do bom nome da cidade e do povo mariliense e bom seria que o próprio povo reconhecesse as minúcias do que aconteceu, partilhando assim dêsse peso, aliviando um pouco aqueles que tiveram a iniciativa de enfrentar a questão. Seria um tanto ingrato para os próprios marilienses, especialmente para aqueles que pódem, o deixar nêsse sacrifício imprevisto, algumas pessoas. Sugeriríamos, então, por nossa livre iniciativa, que aqueles que sempre demonstraram amor por Marília e seu povo, olvidando o erro de um só cidadão, tivessem a iniciativa de vir estender tambem a mão aos marilienses que óra se encontram suportando esse fardo.

O assunto é digno de ser conhecido em toda a extensão de sua realidade e merecedor da consideração de muita gente. Seria injusto o indiferentismo e a apatia em relação ao caso, permitindo tamanho sacrifício à algumas, quando duas delas transportam sozinhas o maior peso.

Extraído do Correio de Marília de 19 de novembro de 1957

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