A sucessão governamental (11 de outubro de 1957)

O problema da sucessão do atual govêrno estadual, principia já preocupar os círculos políticos paulistanos. Pelo que se percebe, através dos noticiários da imprensa especializada em assuntos políticos, a preocupação embora disfarçadamente existe em maiores proporções do que seja possível imaginar.

Os próceres políticos estão evitando tornar públicas suas idéias, mas não ha (como) negar que já existem conchavos e estudos à respeito. Estão sendo auscultadas diversas figuras de primeira grandeza na política atual e ao que parece, a confusão persiste ainda.

O prof. Carvalho Pinto, foi lançado “na fogueira”, com uma antecipação inesperada. A nosso ver, é, de antemão, um nome queimado; não porque lhe faltem qualidades morais ou propriamente administrativas para exercer o alto cargo de Governador do Estado, mais sim em virtude da pouca expressão política de seu nome, em relação às massas. O ilustre primeiro candidato à sucessão do Sr. Jânio Quadros, em que pese suas inequívocas qualidades de financista e administrador capaz, é praticamente um nome apagado no seio da população. Suas relações políticas são de pouca repercussão, especialmente no interior.

Outros nomes estão ainda em fóco, em condições, em estudos. Os partidos políticos estão estudando as conveniências, as vantagens, as possibilidades positivas. Fala-se óra num, óra noutro político paulistano. Ao que parece, os próprios diretórios políticos da paulicéia andam com os olhos um pouco fechados à realidade. A verdade, é que temos um número resumido de prováveis candidatos à sucessão estadual, com probabilidades de bôa repercussão e sufragarão públicas. Em resumo, apenas três nomes representam força eleitoral de recursos em nosso Estado e lutar contra estes ou contra candidatos de renome por eles apoiados, será remar contra a maré. Essas pessoas, sem favor algum, são: Adhemar, Jânio e Ulisses. Em plano lógo a seguir, poderá ser incluido ta(m)bem o nome de Porfírio, que vem de ganhar bastante terreno e popularidade ultimamente.

Daí o dizermos, sem medo de errar, que a força política de São Paulo, em relação ao problema sucessório, está resumidíssima. Muitos políticos ainda não atentaram para êsse pormenor e os que desprezarem tal fato, por certo chorarão no final. Dizemos isto, porque entendemos que qualquer luta contra os nomes citados, terá poucas possibilidades de sucesso total. Não que sejamos apologistas de algum desses cidadãos, mas unicamente porque estamos procurando enxergar as coisas dentro da realidade atual.

O exemplo inevitável teremos com a candidatura prematura do prof. Carvalho Pinto. Hoje em dia o político não se faz num abrir e fechar de olhos, mesmo com a exceção verificada com o sr. Jânio Quadros. O povo prefere os conhecidos, embóra continue repetindo erros e lamentando-se depois.

O caldeirão da política estadual já principiou a ferver. As achas vão sendo colocadas paulatinamente, até o momento em que o fogo será alimentado a todo vapôr. Daí, então, veremos se estamos ou não certos.

Extraído do Correio de Marília de 11 de outubro de 1957

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