“Políticos do lado da sombra” (3 de outubro de 1957)

As vezes achamos verdadeira graça, nas atitudes de certos políticos de nossos dias. São as pessoas que chamaremos de “políticos do lado da sombra”. De mesma maneira que existem os políticos “Maria vai com as outras”, existem também os “do lado da sombra”, isto é, os que se adaptam às circunstâncias de maior probabilidade de “cartaz”, de aparecimento público, desfrutando, em consequência, os resultados de lutas anteriores, procedidas por outros políticos, na maioria das vezes bem intencionados.

A questão da luta municipalista é um exemplo frisante. Hoje em dia, raro é o deputado ou o político profissional que não seja ou não pretenda ser “municipalista”. No passado, só um número ínfimo de bons interioranos desfraldou essa bandeira, que hoje principia a dar os seus primeiros frutos, impondo a sua força e exigindo os seus direitos. O “negocio” hoje é diferente. Principalmente nas épocas de eleições, quando os políticos de oportunidade abandonam o asfalto e se dirigem ao interior, arvorando-se em amigos das comunas bandeirantes.

Acontece que o povo já está sendo convenientemente educado, para saber bem, quais são os contadores de prosa e os verdadeiros amigos da gente interiorana. A discriminação racional de rendas, para fortalecimento dos municípios, é hoje em dia quase uma vitória total do pequeno exército muncipalista, atualmente engrossado por “engajados” oportunistas. Não raro, qualquer deputado, principalmente estadual, é partidário da luta municipalista, “ardoroso defensor” dos interêsses municipais.

Efetivamente, o assunto até tem dado para demagogia no Palácio 9 de Julho, quando muitos deputados que nem sequer sabem bem o que significa o assunto, têm se ocupado da questão, com alardes e estardalhaços, enviando, imediatamente aos jornais do interior, trechos de seus discursos ou recortes de declarações à imprensa, sôbre o assunto. Muitos, talvez, estejam bem intencionados. Outros, ao que parece, estão apenas intencionados.

Em verdade, todos os deputados deveriam interessar-se realmente pela questão, sem outros desejos que não os de servir uma grande causa. Uma coisa é certa e convem que os deputados, tanto os verdadeiramente municipalistas como os municipalistas de conveniências, tenham-na sempre em mente: Ou se enriquecem os municípios interioranos ou sucumbirão as próprias instituições democráticas do país. As comunas brasileiras, do norte ao sul da nação, andam capengando, depauperadas e bastante enfraquecidas. Os objetivos e necessidades atuais dos municípios, até aquí, quse que só foram atendidos mediante favores palacianos e compromissos políticos, tendo no passado sido relegado a plano inferior o verdadeiro direito das comunas brasileiras.

Se não fosse a luta municipalista, por certo os municípios tenderiam a desaparecer, auferindo uns, em temporadas curtas, alguns benefícios apenas, como consequência de favores de seus próprios administradores políticos, representando uma disparidade e injustiça, uma oligarquia; isto é, só aufereriam benefícios e assim mesmo inequãnimes, os municípios cujos administradores lessem pela mesma cartilha política dos governantes.

O município hoje, graças a luta municipalista, está encontrando seu verdadeiro lugar dentro da vida nacional. Justifica-se, portanto, de certo modo, a invasão dos “políticos do lado da sombra”.

Extraído do Correio de Marília de 3 de outubro de 1957

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