O satélite artificial (12 de outubro de 1957)

O assunto do momento, é sem dúvida, o lançamento do satélite artificial russo. Questão que deve ser encarada à parte de qualquer ideologismo político, partidarismo de nação, simpatia ou antipatia por determinados povos.

A questão é puramente científica. Abre novos horizontes no campo sideral, prognosticando por um lado perspectivas inteligentes de descortínios de um futuro mais completo e feliz para tôda a humanidade, com a utilização dêsses satélites para fins úteis e humanos. Por outro lado – temem alguns –, poderá precipitar acontecimentos imprevisíveis, caso suas verdadeiras finalidades sejam desvirtuadas e seu emprego seja destinado a fins beligerantes, diretos ou indiretos.

Confessamos que há quinze dias transatos, se nos dissessem com segurança que tal fato ocorreria, teríamos duvidado. Isto, porque de há muito, vinham a Rússia, a Inglaterra e os Estados Unidos, apregoam tais lançamentos. Como a tensão política internacional vem nos últimos anos atingindo um regular índice de inquietação e mesmo receio, principalmente com as últimas experiências das mais terríveis armas nucleares, teríamos na ocasião, considerado tal informação, como uma espécie de propaganda atemorizante, da qual poderiam valer-se ditos países, especialmente URSS e US.

Na última sessão da Câmara Municipal, aprovou a edilidade mariliense, requerimento do vereador reverendo Álvaro Simões, propondo um voto de regojizo pelo fato, que significa, antes de mais nada, um largo passo na ciência hodierna. O Dr. Coriolano de Carvalho, referindo-se ao teôr do mencionado requerimento, rendeu também suas homenagens à inteligência humana e colocou em relevo o aspecto cientifico da questão, abordando, com propriedade, o assunto de tal magna importância.

Não há dúvida, que nêsse pormenor, devemos render reverências aos cientistas russos (embora divulguem algumas agências telegráficas, que os técnicos do citado engenho são alemães e não sovieticos). O assunto merece mesmo um destaque especial e só lamentamos não poder faze-lo de maneira completa, por desconhecimento absoluto da questão em suas bases científicas. Se isso fosse possivel, ninguem melhor do que nós para abordar sob êsse ângulo o assunto do momento, uma vez que politicamente não nos casamos com a doutrina russa.

De qualquer forma, é um tributo de reconhecimento obrigatorio a inteligência humana, o que pretendemos fazer neste pequeno destaque. Simultaneamente, rogamos à Deus para que o emprego dos futuros engenhos congêneres, só possa trazer benefícios e facilidades para toda a humanidade e nunca servir para fins destruidores da felicidade humana.

Extraído do Correio de Marília de 12 de outubro de 1957

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