O General e a greve (25 de outubro de 1957)

Sinceramente, causou-nos a mais profunda espécie, a atitude do vice-governador do Estado, general Porfírio da Paz. Não porque S. Excia. tivesse se solidarizado com o movimento paredista de grandes proporções, óra (des)ferido em São Paulo, mas sim pelos meios como o vice-governador aderiu ao acontecimento, chegando ao cúmulo de sair às ruas e comandar “piquetes” de grevistas.

Estranhamos o agir do general Porfírio, como homem público, como político consumado e como oficial general de nosso Exercito. Por mais que tivéssemos tentado achar motivos par(a) justificar a atitude do vice-governador, não conseguimos fazê-lo. O gesto do general foi de uma infelicidade completa. Pactuou com um movimento que foi disvirtuado em suas finalidades primordiais, passando, de greve passiva à ondas de agitações, depredações e imposições condenáveis, inclusive com destruições de propriedades alheias. Colocou-se frontalmente contra o próprio Governador, uma vez que êste procura deter a onda de destruições e o alastramento do mal, agora por meio das fôrças policiais. Quando o vice-governador deveria entrar na questão como um eficiente pacificador, como “mediador de paz”, eis que o mesmo surge como um dos muitos arruaceiros que comprometem, no momento, inclusive a própria administração estadual, cujos reflexos já ricocheteiam na esféra política e administrativa federal.

Agitaram-se, com justas razões, os meios políticos de todo o Estado e não houve quem não verberasse a atitu(de) verdadeiramente chocante do general Porfírio da Paz. O gesto cometido pelo vice-governador, não resta dúvida, é dos mais condenáveis. Foi impensado, com toda a certeza. Talvês o general Porfírio tivesse outras intenções e ingenuamente assim tivesse agido. O certo é que não póde escapar à censura pública semelhante áto.

Ficamos abismados com tal proceder. O vice-governador, com tal atitude, caiu alguns furos em nosso conceito.

Como político, jamais deveria ter-se utilizado de semelhante meio demagógico. Como vice-governador, nunca deveria ter tomado uma atitude de verdadeira descompostura como éssa. Como militar, nunca seria de esperar-se a participação num movimento condenável, como os “trabalhos” dos “piquetes” de grevistas, que desejam paralizar toda a indústria paulistana, por meios suasórios dos mais condenáveis e ilegais.

Se o movimento grevista tivesse sido pacifico, ordeiro, paciente para com as providências e estudos das partes interessadas, sem agitações, sem depredações, sem arruaças ou imposições de carater persuasivo e se o general tivesse sido solidário, democraticamente, com o mesmo, teria daquí nossos aplausos. No entanto, pelas circunstancias e meios como se processou éssa atitude do vice-governador, daquí externamos, ao par de nosso basbaque, a nossa condenação, com eivas de censura pelo gesto cometido.

Extraído do Correio de Marília de 25 de outubro de 1957

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