O negócio é o seguinte (11 de setembro de 1957)

Tinhamos dado como encerrado, o “caso” dos direitos das mulheres, presentemente discutido em assembléia feminina levada a efeito no Rio de Janeiro. O comentário inicial, não foi propriamente idéia nossa, e, obedeceu antes de mais nada, à uma solicitação por escrito, assinado por M.L.R.. Posteriormente voltamos a focalizar a questão, ainda em virtude de nova correspondência do mesmo (ou mesma) missivista.

Mais cinco cartas chegaram até nós, versando sobre idêntico assunto. Quatro foram assinadas por mulheres, todas a nosso favor e a outra continuou a trazer as iniciais M.L.R.. As quatro correspondências primeiras, com nomes e endereços completos, algumas até com o número do telefone, atiraram algumas “pedrinhas” sobre a idéia de M.L.R., que, no entanto, em sua missiva, voltou a chamar-nos de “inimigo das mulheres”. A cartinha de M. L. R., desta vez foi mais “impetuosa”, mais arrogante, um pouquinho mais “picante”. Porém, sem alguma essência ou base que nos convencesse a pensar de módo diferente daquilo que anteriormente haviamos externado. Cremos ser desnecessário continuar repetindo que somos favoráveis aos direitos iguais dos homens e mulheres. Mas iguais, em tudo. Seria interessante ver mulheres lixeiras, legistas, coveiras, etc.

Bem, mas o “negócio” é o seguinte: Vamos agora demonstrar algo do que realmente pensamos dêsse assunto de direitos iguais, de homens e mulheres. Não póde ser. Não póde ser, porque as mulheres não querem em verdade igualdade de direitos, quando, perante a sociedade elas já dispõem de mais direitos e vantagens do que os homens. A(s) mulheres já nascem com u’a missão das mais elevadas que se poderia desejar: procriar. Póde existir coisa mais sublime do que isso? Além de amamentar e criar os filhos, de cuidar da casa, de servir os maridos, as mulheres executam ainda mais duas missões de nobilíssima representação dentro do desenvolvimento e das necessidades da própria vida: o magistério e a enfermagem. As primeiras, que incutem nas mentes das crianças as luzes do saber, as coisas magnas da história e da ciência; a segunda, que mitigam a dor e confortam os doentes. Isso já não seria suficiente para a mulher sentir-se feliz e satisfeita?

As mulheres chamadas (ou consideradas) “modernas”, pensam diferente. Principalmente as casadas, cujos maridos possuem boas condições financeiras. Fumam, bebem “whisky”, usam calças compridas, já aboliram as tradicionais combinações, usam cabelos como homem e não saber cuidar da casa. Dirigem automóvel, jogam “pifpaf”, discutem e se metem em política, mas não sabem fazer crochê ou tricô, como não sabem temperar um bom bife ou fazer uma “maionese”; algumas não sabem nem siquer dar banhos nos próprios filhos.

As crianças ficam brincando em Parques Infantis, “play grounds” ou sob os cuidados de pagens, enquanto as “madames” ficam dia inteiro na rua, sob o pretexto de fazer compras, uma excelente invenção para elas e uma desgraça para os bolsos dos maridos.

Hoje em dia, até o sublime leite materno é abolido em muitas ocasiões de muitos recém-nascidos, porque é mais fácil telefonar para o médico pediatra, este prescrever um leite em pó e a empregada preparar a mamadeira!

No Rio, não ha muito, um juiz de direito do sexo feminino, “pegou um bonde errado” ao meter-se com David Nasser. Não foi prestigio do jornalista, não; foi incompetência mesmo e idéia fixa de querer fazer prevalecer um capricho bem feminino, relegando aquilo que se chama direito e está expresso nos códigos.

As mulheres devem ter mesmo os direitos iguais. Mas em todos os sentidos, inclusive sustentar os maridos. Confessamos que sentiriamos um prazer infindo, em sentarmo-nos numa cadeira de engraxate e dar uma gorgeta a u’a mulher que nos polisse os sapatos, por exemplo. Ou que tivessemos, dentro de nossas condições de reporteres, de presenciar ao desenterro de um cadaver depois de duas semanas, para assistir u’a mulher fazer a autópsia, em lugar do Dr. Xisto.

Uma coisa, no entanto, as mulheres que se reuniram no Rio não cogitaram: o direito de trabalhar como os homens – na picareta, na enxada, carregar sacos, trabalhar em necrotérios e ser guardas noturnas!

Para sermos francos, confessamos que gostaríamos que isso acontecesse, porque, realmente, as mulheres já tem direitos maiores do que os homens. Só então poderiamos modificar o adágio de que “nu’a mulher não se bate nem com uma flôr” poderiamos bater de cacetes ou de outro meio, uma vez que atualmente, somos obrigados a apanhar e ficar quietos.

Os leitores já pensaram como seria “gozado” as nossas mulheres fazendo os nossos trabalhos e nós fazendo os delas? Apostamos que os serviços de casa sairiam iguais, nós inventariamos um jeito de cansarmo-nos menos e elas “entregariam os pontos” logo de saída...

Extraído do Correio de Marília de 11 de setembro de 1957

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