Trabalho de estudos (22 de agosto de 1957)

Esta crônica é feita sob encomenda, por solicitação de uma ilustre professôra de um dos grupos escolares da cidade. Achando plausíveis as ponderações da mencionada mestra, apressamo-nos em trazê-las a público. O ponto de vista dessa educadora, que é, antes de tudo, um fervoroso apêlo aos pais e responsáveis de alguns dos próprios alunos, resume-se no seguinte:

Ultimamente muitas crianças que estudam em estabelecimentos primários, estão prejudicando o próprio curso, por uma questão de necessidade pecuniária das próprias famílias ou por ignorância dos próprios pais ou responsáveis. Citaremos, neste escrito, os exemplos que a nossa solicitante nos forneceu.

Muitos pais de família, retiram dos grupos escolares, às vezes no último ou últimos anos da série, meninos e meninas, para aproveitar os trabalhos dêstes nas épocas de colheita de algodão ou de catação de café. Às vezes, crianças que estão realizando excelente aprendizado, com aproveitamento integral dos ensinamentos ministrados; há até um caso em que u’a menina, que era a primeira da classe, foi afastada dos estudos para a colheita do algodão, tendo regressado algum tempo mais tarde, para encontrar dificuldades e mostrar-se atrasada no acompanhamento do programa estudantil.

Outras vezes, algumas meninas são empregadas como domésticas em casas de família, com a condição de sairem em tempo do trabalho, para frequentar a escola. Nesses casos, quase sempre, as alunas faltam muito, com prejuizos evidentes para seus próprios conhecimentos. Essas faltas, alegam, devem-se às próprias patroas, que não as deixam sair em tempo habil ou que as prendem outras ocasiões, por motivos os mais diversos e muitas vezes os mais comezinhos.

Só uma compreensão mais acurada por parte dos pais dêsses alunos ou alunas, poderá pôr um fim, pelo menos parcialmente, ao mencionado estado de coisas. Urgiria, então, que as próprias direções dos estabelecimentos de ensino, fizessem, na ocasião das matrículas e de inícios dos anos letivos, preleções fundamentadas, em linguagem clara e suscinta aos pais ou responsáveis dos alunos, fazendo-lhes incutir no espírito, os prejuizos que acarrretarao aos próprios que acarretarão aos próprios filhos, com medidas idênticas às que estamos referindo.

Cumpre reconhecer, por outro lado, que muitas vezes, fatos como êsses, são motivados pela própria dificuldade financeira de muitos chefes de família, que, se vêem obrigados a lançar mão dêsse expediente, objetivando auferir alguns cruzeiros a mais para reforçar os parcos orçamentos do lar.

Aí, então, deverão entrar os conselhos dos próprios professores e dos diretores dos estabelecimentos de ensino, fazendo com que os pais evitem tais acontecimentos, embora arcando com mais alguns pequenos sacrifícios. Nesses casos, ao ter conhecimento de desfechos como os que citamos, os próprios responsáveis pelos estabelecimentos de ensino deverão procurar, pessoalmente os pais dêsses alunos, expondo o fato e tudo fazendo para que os estudos dessas crianças não sejam truncados. Convém ainda lembrar, que, as crianças que estudam em grupos escolares, em sua maioria, não podem seguir outros estudos e será de lamentar-se o ficar prejudicado, entre nós e entre essa infância que representará os homens de amanhã, o simples curso primário, que já apresenta entre nós, segundo a opinião de alguns entendidos, algumas deficiências pedagógicas.

Aqui fica o apêlo dessa mestra, que é justo sob todos os pontos de vista.

Extraído do Correio de Marília de 22 de agosto 1957

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)