Propaganda do Brasil (20 de agosto de 1957)

Não há muito, escrevemos aqui, alguma coisa, censurando o dispêndio de verbas governamentais, para fins de propaganda do Brasil no exterior. Não porque julgássemos desnecessário tal veículo. Muito menos, porque alimentássemos algum interêsse anti-patriótico ou subalterno, de carater pejorativo: unicamente, porque estamos percebendo, bem como todos os demais brasileiros sensatos e patriotas, aquêles que se preocupam um pouquinho pelas coisas do Brasil, o gigante que “dorme eternamente em berço esplêndido”, que o meio pelo qual tal “propaganda” vem sendo feita, não está em absoluto correspondendo.

Ou o processo está falho por deficiência técnica no sentido intrínseco da verdadeira propaganda, ou falta verba suficiente, ou os empregados designados para tal fim são preguiçosos, dorminhocos, acanhados, e, o que é mais grave, maus brasileiros.

A propaganda do Brasil no exterior tem sido um verdadeiro mito. Uma deficiência tão grande, que chega mesmo a ser uma vergonha!

Chega-nos agora mais uma prova indestrutível: O próprio Governador Jânio Quadros, que não tem nenhum pejo para dizer a verdade, alega em correspondência de Londres, que ficou profundamente aborrecido com uma pergunta que lhe foi formulada por repórteres ingleses, quando indagaram se São Paulo “era uma das maiores províncias da Argentina”.

Vejam os leitores, que a pergunta foi formulada por profissionais de imprensa. Se êstes fazem indagações dêsse porte, como não pensará a maioria dos ingleses? Mas não só os britânicos pensam assim. Quase todo o mundo exterior assim pensa, porque os brasileiros contribuem para tal. Os próprios brasileiros pouco ligam para o Brasil, pouco se interessam pelas coisas e pela grandeza territorial de noss Pátria. Pergunte o leitor ao primeiro que encontrar, se, sendo paulista e tendo posses, já visitou o Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul ou o Ceará. Verificará que não, quando é quase certo que o mesmo já foi à Argentina, ao Uruguai e possivelmente aos Estados Unidos. O brasileiro, conforme já disse eminente jornalista paulistano, se preocupa mais com o exterior do que com o próprio país.

A propaganda no exterior, até agora, tem sido algo nula. Nula elevada ao cubo, para sermos mais claros.

Recordamo-nos, a propósito, de um fato interessante: Em 1944, quando estávamos na Itália, ficamos conhecendo um professor catedrático da Universidade de Roma. Não pensem os leitores que era um professor “feito a machado”. Era um homem culto, bom conversador, que acabou por tornar-se um bom amigo do autor destas linhas. Pasmem ou não, tal mestre perguntou-nos, após uma visita feita ao Santo Pontífice, se São Paulo era a Capital da Argentina!

Ao que atribuir isso? Logicamente à falta de propaganda do Brasil no exterior. Imaginem os leitores, que isso aconteceu na Itália, país que ostenta um lugar de prôa no setor de emigração para o Brasil!

Muita gente, na Itália, quando lá estivemos, ignorava até o nome do Brasil, a sua língua e o próprio continente. América, para a maioria daquela gente se resumia em duas nações – Argentina e Estados Unidos! Vinte e cinco mil brasileiros, como o autor déstas linhas, integraram a F.E.B. e poderão confirmar o que dissemos. De modo que, não vemos razão para que o Sr. Jânio Quadros tanto se admirasse. Quem deveria admirar-se realmente seria o Ministro das Relações Exteriores, que jamais soube escolher um pessoal competente e o próprio Senado que aprova verbas que até aquí tem sido mal empregadas.

Já que citamos o exemplo anterior, convém tambem lembrarmos, que exibimos certa ocasião, na Itália, a um capitão do exercito americano, uma fóto em que apareciamos, na Praça da Sé em São Paulo, ao lado de um automóvel Ford Tipo 1941. o militar admirou-se todo , estranhando os prédios que apareciam no fundo da fotografia, o automóvel e a roupa “igual” a dos Estados Unidos. E foi mais além, perguntando-nos se éra verdade que no Brasil só existiam féras e índios que dançavam o samba.

Por aí, póde verificar-se, claramente, quão ineficiente tem sido, até aquí, a propaganda do Brasil no Exterior. No entanto, perguntemos ao Govêrno Federal, quantos funcionários “especializados” existem em paises estranhos, quanto ganham e quanto montam as verbas a respeito, consignadas anualmente no orçamento do país, para estes fins.

Extraído do Correio de Marília de 20 de agosto de 1957

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