Plano para baixar o custo de vida (26 de julho de 1957)

Um telegrama procedente do Rio de Janeiro, dá ciência de que a Associação Rural de Goiás fará a entrega ao Presidente da República, de um memorial contendo uma fórmula destinada a baixar o custo de vida no Brasil.

Conforme se depreende do corpo do aludido despacho, a baixa do custo de vida será possivel, através de financiamento aos produtores brasileiros pela própria COFAP, que além disso adquirirá a produção total, para entrega-la posteriormente ao consumo público, por intermédio de armazens populares, ou de comerciantes honestos, que se limitem a um lucro apenas razoavel.

Tal esquema, ao que anuncia, prevê ainda uma série de outras providencias, entre elas a criação e instalação nas capitais dos Estados e municípios de grande projeção no campo agro-pecuário, de patrulhas motomecanizadas, destinadas ao destocamente e aração das terras destinadas à agricultura.

A notícia, assaz otimista, antevê mesmo que o aludido plano virá provocar séria reação por parte daqueles que são intermediários ganaciosos, habituadssimos à exploração do público consumidor, ganhando rios de dinheiro facilmente e às custas do sacrificado povo brasileiro.

Não ha (como) negar que a idéia é digna de aplausos e seria uma grande coisa se executada efetivamente conforme é proposta.

Entretanto, temos nós algumas dúvidas acerca da viabilidade dessas providências e dos benefícios efetivos que poderão advir ao público consumidor. Até parece que estamos vendo um fato curioso: centenas de inexcdrupulosos intermediários perdendo a “chance” de aumentar do dia para a noite suas fabulosas fortunas, para dar lugar a out(r)as centenas de desonestos funcionários que nada mais serão do que apaniguados políticos, que igualmente enriquecerão a custa da miséria do mesmo povo brasileiro.

Não ha exagero de pessimismo nesse modo de pensar. Todos sabem que muitos “patriótas” que atualmente emprestam seus serviços a famigerada COFAP, ganham mais do que deputados, senadores e o próprio Presidente da República. Nesses ganhos, incluem-se os vencimentos polpudos chamados honestos e as incontáveis “mordidas” e pactuação nas inúmeras “marmeladas” que imperam a rodo nésta terra que Cabral descobriu por motivo da paralização dos ventos nas costas da África.

À propósito, não ha muito, o redator déstas linhas ficou conhecendo no Rio de Janeiro, um membro da citada COFAP. O cidadão mencionado, que não éra lá um “grandão” dentro do órgão, fazia jus aos vencimentos mensais de 15 mil cruzeiros, para reunir-se, no muito, uma vez por mês! E, desbriadamente, confessava-nos que recebia muitos “presentes”, para contornar situações pelas grandes classes, para votar favoravelmente a pretensões de aumento de determinadas mercadorias ou gêneros! Esse homem, que não sabemos se ainda continua na diretoria da organização que tornou-se hoje um desprestígio público, uma vez que desvirtuou por completa suas altas e nobres finalidades, não éra nenhum “cabeça” do organismo. Imaginem os leitores se o fôra!

Em todo o caso, o que vale aquí, é a intenção dos dirigentes da Associação Rural de Goiás. Se os resultados não forem aqueles colimados pela citada entidade, não terá a referida sociedade a culpa do insucesso. Existem outras pessoas diretamente responsáveis por isso e muitas coisas mais. E os nossos leitores sabem, de antemão, quem são.

Extraído do Correio de Marília de 26 de julho de 1957

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