9 de Julho (9 de julho de 1957)

Marca a data de hoje, o transcurso de um quarto de século do Movimento Revolucionário Constitucionalista de 1932. Assinala o levante patriótico dos paulistas, intrinsecamente democráticos, contra uma cifra de outros irmãos brasileiros, em holocausto à chama da constituição e da liberdade. A princípio, as fundamentações da contenda, não puderam ser convenientemente bem interpretadas. Julgou-se o movimento como um “bairrismo” exagerado do povo paulista, como um motivo de independência separatista.

O tempo, místico e inexorável, incumbiu-se no entanto, de provar o contrário. Encarregou-se de incutir na compreensão de todos, o verdadeiro sentimento dos paulistas, na expansão extrema de uma união dos homens de todo o Estado, na defesa dessa batalha verdadeiramente sacrossanta.

Hoje, já não se encara o movimento Constitucionalista de 1932, como demonstração de condenável insubordinação, como um áto de levante contra um poder federal democraticamente constituido. Em nossos dias, de todos os quadrantes do Brasil, analisa-se tal acontecimento como um movimento de redenção, na luta inicial pela restauração do regime constitucional, que hoje, mercê de Deus e da luta dos paulistas, temos o orgulho de desfrutar.

Levantou-se S. Paulo, praticamente contra o Brasil todo, porque levantou-se contra o próprio Governo ditatorial, que desrespeitara, na ocasião, os preceitos democráticos, que tão bem se casam com a índole, o princípio e o espírito dos brasileiros. Lutas armadas travaram-se em diversos pontos do Estado, dizimando centenas de patriotas, que acudiram ao apêlo da Honra e correram ao campo de luta, em defesa dos postulados democráticos.

Marília, que na ocasião não tinha mais do que um lustro de idade, demonstrou tambem o seu acendrado amôr pela causa, enviando ao campo de luta seus filhos autênticos. Daquí partiu o “Batalhão de Marília(”), levando ao lado da bandeira das treze listas, a bandeira mariliense. Carlos de Moraes Barros, Adorcino de Oliveira Lyrio, Rubens Pedrosa, Vicente Ferreira, Saturnino de Brito, Nelson Spielmann e muitos outros, foram e são os nomes de marilienses, que ajudaram escrever, com letras de sangue e de ouro, mais éssa página brilhante da própria história da democracia brasileira. Alguns tombaram no Campo da Honra. Outros regressaram. Os que cumpriram seu dever, integraram-se depois no organismo da vida comum, satisfeitos pela cóta de sacrifício dispensada à própria Pátria. Saturnino de Brito e Vicente Ferreira caíram em combate e não mais se levantaram, embora seus nomes continuem a ser para nós, marilienses, uma bandeira de glórias. Nelson Spielmann, repousa hoje na necrópole municipal. Seu túmulo é um monumento; não no sentido material, mas dentro do espírito irrefutável e orgulhoso de que sua morte não foi em vão, constituindo-se numa chama permanentemente acesa de liberdade, constituição e democracia.

O dia 9 de Julho, hoje, já não se apresenta como um sinal incompreendido de uma luta comum; hoje a data é cara e saudosa, testemunho inconteste do denodo, glória e honra, na intransigente defesa de uma causa nobilíssima e acima de tudo patrióta.

Ao ensejo désta efeméride, permitimo-nos apresentar os nossos sentimentos de congratulações aos paulistas que foram capazes de ir à luta, em desagravo à afronta que se cometia ao próprio espírito da democracia em sua real essência. Em particular, rendemos tambem a homenagem e o nosso tributo de gratidão e apreço, aos revolucionários constitucionalistas que representaram Marília néssa caminhada de sacrifício e glórias. Em separado, ainda, a nossa prece àqueles que tombaram no cumprimento do dever, banhando com seu sangue o sólo paulista!

Extraído do Correio de Marília de 9 de julho de 1957

(Nota dos editores Sueli e Cláudio Amaral, escrita em 9/7/2009: para saber mais a respeito da Revolução Constitucionalista de 1932 http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Constitucionalista_de_1932
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