Parlamentarismo e pugilismo (13 de junho de 1957)

Não poucas vezes, têm registrado a imprensa, átos reprováveis por parte dos parlamentares brasileiros, especialmente no que diz respeito à verdadeiras cenas de pugilismo em plenários.

Agora, vem a situação de repetir-se, através de um engalfinhamento e tróca de sopapos, entre os deputados Araripe Serpa e Dante Perri. E a briga, désta vez, aconteceu em plenário, quando os dois parlamentares se desavieram, passando para o terreno do deforço pessoal, na ocasião em que um outro deputado ocupava a tribuna!

O Sr. Araripe Serpa, por sinal o mais jovem deputado do Brasil, é, ou melhor, éra, o líder da Frente Parlamentar Situacionista no Palácio 9 de Julho. O Sr. Dante Perri, do Partido Repúblicano, sentiu-se ofendeido por determinas críticas assacadas pelo representante da situação, acerca de irregularidades que existiriam no Departamento de Estradas de Rodagem. Como ex-engenheiro daquela autarquia, o Sr. Perri revidou às afirmativas do sr. Serpa. Do revide ao acaloramento da discussão e ao bofetão, tudo foi rápido. O deputado situacionista apanhou primeiro e não teve ensejo de tirar a fórra, porque entrou a turma do “deixa disso”.

A briga em sí e nem tampouco seus motivos, não nos interessa. O que interessa no caso, são as verdadeiras vergonheiras que somos obrigados a presenciar, por parte daqueles que mereceram o conceito e a confiança públicas, para representar o próprio povo.

Cenas de pugilato, hoje em dia, são infelizmente, partes integrantes do parlamento nacional. Não foi a primeira vez e não será por certo a última, que tal acontece. Palavrões e até armas de fogo, volta e meia quebram aquilo que deveria ser a importância e o respeito de certas câmaras.

Enquanto isso, o descrédito público, ao invés de crescer, arrefece cada dia mais. Hoje, não se póde culpar o povo por não dispensar aos parlamentares, aquele respeito que seria primordial, aquela consideração que seria a primeira condição de crédito aos que desfrutam de mandatos eletivos. Quem causa tal estado de coisas? Claro que são os próprios deputados, senadores e vereadores. Existem, é lógico, exceções honrosas. Mas a maioria encobre átos daqueles que comungam a sensatês e gestos comedidos, com verdadeiras palhaçadas, pancadarias e cenas de pugilato.

É realmente desagradável, o registro de tais ocorrências. Mas é pena, tambem, que os deputados briguentos, não disponham de meios e elementos para sondar a opinião pública, conhecendo o que a respeito pensam desses átos e dessas pessoas, aquilo que eles próprios chamam de “massas”...

Extraído do Correio de Marília de 13 de junho de 1957

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