Marília e a Faculdade (18 de junho de 1957)

Vencida, mercê de Deus, dos trabalhos dos marilienses e da classe estudantil, ao lado dos esforços do deputado Maurício dos Santos e da sinceridade de propósitos do sr. Governador, mais uma etapa da luta de todos nós, acerca da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília.

Foi intenso e perfeitamente justificado, o ânimo de júbilo incontido, que na noite de anteontem, dominou todos os marilienses, principalmente aquêles que vinham acompanhando com carinho e interêsse, a contenda local, pró instalação dêsse curso oficial de ensino superior, recentemente criado em nossa cidade.

Foi uma grande vitória, sem sombra de dúvida. Contaminou-nos o acontecimento, porque sempre procuramos nos ombrear à essa luta bem mariliense, legitima aspiração de tôda gente de nossa terra e da própria Alta Paulista, diretamente beneficiada.

Os poderes constituidos da cidade, emprestaram a melhor boa vontade à bandeira desfraldada pela classe estudantil. O sr. Prefeito Municipal, pessoalmente, dispendeu esforços orientadores, no sentido de que a delegação de Marília fosse bem recebida e plenasse o fim da viagem à São Paulo. Por outro lado, quase todos vereadores, emprestaram também o seu quinhão, através dos meios a seus alcances.

Aqui deixamos, publicamente, nosso contentamento, justamente com as congratulações aos estudantes marilienses, pela conquista dessa magnífica vitória, que é indiscutivemente, a vitória de nossa gente de amanhã, constituindo-se no orgulho de nossos filhos.

Simultaneamente, nossos aplausos ao insigne Governador do Estado, pela maneira democrática, fraternal e carinhosa, com que se dignou receber nossos moços (representantes intransigentes do desejo de haurir as luzes da ciência), dispensando-lhes cordial recepção e ordenando a fixação de verba de cinco milhões de cruzeiros, no orçamento do próximo ano, para a instalação da Faculdade de Filosofia de Marília.

Dizem os nossos avós, que são mais saborosos os quitutes difíceis de preparar e mais apreciáveis seus paladares. O mesmo diremos nós, agora, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Representa tal conquista, o fruto de lutas titânicas, iniciadas há mais de uma dezena de anos, onde participaram soldados de tôdas as condições, irmanados no mesmo ideal, nos mesmos propósitos, objetivando o mesmo desiderato; dar aos marilienses da nova geração e às gerações futuras, a oportunidade de estudar sem o sacrifício de correr para outros centros ou para as capitais.

A vitória é do próprio povo mariliense, porque Marília é uma só e única família, que trabalha e constrói, nesta fábrica de progresso que abismou o mundo, tendo sua grandeza sido citada com abundância de pormenores pelo jornal “Times” de Londres.

Numa entrevista ontem, concedida à Rádio Dirceu, o estudante Décio Villela declarou à certa altura: “os estudantes marilienses ainda não despiram o uniforme de campanha; a luta continuará, para que a Faculdade de Filosofia, ora conquistada, seja o marco inicial de futuras lutas, para que Marília tenha no futuro, a sua própria universidade”. Traduz, sem dúvida, tal afirmativa, o pensamento de todos aquêles que são bons marilienses, que pulsam por estas plagas e que dedicam amor verdadeiro à nossa querida cidade.

Também, há dias, quando aqui esteve o sr. Secretário da Saúde, o ilustre professor Carlos Gama, s. s. declarou , em certos trechos de seu discurso por ocasião da inauguração do Curso Auxiliar de Enfermagem, que “oxalá êste acontecimento seja o início da criação de uma Faculdade de Medicina em Marília”.

O fato é, que tal acontecimento veio premiar dois lustros de lutas bem intencionados dos marilienses. A vitória acenou-nos com seus louros, após tanto desprendimento, tanto trabalho, tanta disposição e insistência. Que nos sirva a conquista para a continuidade de novas batalhas, sempre dignas e honradas como essa, sempre patrióticas e bem marilienses como fora nas contendas encetadas pela Faculdade de Filosofia.

Extraído do Correio de Marília de 18 de junho de 1957

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