A imoral “lei cadillac” (19 de junho de 1957)

Enquanto o Govêrno raciona ou nega divisas oficiais, para a importação de hidrômetros, vacinas “Salk”, tratores, implementos para a lavoura e muitos outros objetos úteis e necessários ao progresso do Brasil e à vida do próprio povo brasileiro, principiam a surgir os efeitos degradantes da imoral e vergonhosa “lei cadillac”.

Um punhado de salafrários, que, mercê da ingenuidade e da boa fé do nosso povo, ostenta hoje o privilégio de polpudos vencimentos, imunidades parlamentares, “chapas brancas” e campos de vasão à negociatas escandalosas e antipatrióticas, advogou em causa própria, em detrimento da economia nacional, êsse imoral diploma.

Pelo navio “Mor Macyork”, chegaram quarta-feira última, ao Rio de Janeiro, catorze carros de luxo, importados ao câmbio oficial, destinados aos deputados “beneficiados” pela desavergonhada lei. Imediatamente acorreram ao cáis do porto, lampeiros e desbriados, doze proprietários dessa leva de automóveis, importados com o suor do próprio povo, em prejuizo da economia nacional, oferecendo meios e margens de que os deputados federais possam comerciar com os interêsses financeiros da própria Pátria, vendendo automóveis, com um lucro de mais de 900 mil cruzeiros. São êstes, leitores, os primeiros doze maus brasileiros, que trataram de retirar seus veículos, veículos êsses que deverão deixar, pelo asfalto das ruas cariocas, a marca da pouca vergonha e de afronta inominável ao povo brasileiro: Seixas Dória, Ítrio Correia da Costa, Ostojo Roguki, Athaide Bastos, Adail Barreto, Ivan Bichara e Plínio Lemos, todos da oposição; Vasconcelos Costa, Ulisses Lins, Unirio Machado, Luiz Carlos Dourinho e Benjamin Mourão, da chamada “maioria”.

Os gritos de angústia, os protestos, os apêlos do próprio povo, para que o projeto referido não fosse convertido em lei, não encontrou guarida no sentimento pátrio de muitos deputados. Os interêsses dessas pessoas, são idênticos a fome do leão da fábula: para si a maior parte.

Cada carro de luxo, último tipo, chega ao Rio, na importância total de 30 mil dólares, ou seja, aproximadamente 210 mil cruzeiros. O valor comerciável de carros dêss(e) tipo, no Rio, é de 1 milhão e 200 mil cruzeiros; a diferença é de cerca de um milhão de cruzeiros, que representará, indiscutivelmente, o “lucro” de cada venda, que os maus representantes do povo embolsarão, à custa e sacrifício do próprio povo e contrariando frontalmente os interêsses econômicos do país.

Não estamos sendo lúgubres ou exagerados nesse conceito, que para ninguém deve ser segredo. Jornais cariocas já publicaram entrevistas, de muitos dêsses deputados e seus planos de venda dos veículos importados!

O próprio povo que anote devidamente os nomes dessa gente, dêsses maus brasileiros, dando-lhes, no futuro, especialmente nas épocas eleitorais, o pagamento merecido.

Extraído do Correio de Marília de 19 de junho de 1957

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