No passado, tanto como no presente... (21 de maio de 1957)

Conversamos outro dia com um companheiro de trabalho e ao par de uma série de assuntos normais e naturais da palestra, veio à baila, aquilo que vez por outra comentamos nésta coluna e que é tambem objeto de apreciação por inúmeros cronistas, não só da Capital como do interior: as dificuldades e alta dos preços.

E nosso companheiro nos asseverava, que, desde que principiou a conhecer-se por gente, sempre ouviu as mesmas reclamações acerca de que “tudo está caro”, “tudo está difícil”.

A propósito, citava-nos o caso de um médico mariliense, que, não ha muito, numa viagem pelo velho mundo, visitou o museu egípcio em Londres. Naquele estabelecimento histórico, o esculápio viu uma carta escrita 2.000 anos Antes de Cristo, em cujo conteúdo, ao par de assuntos corriqueiros e de família, o missivista reclamava que “tudo estava caro, que a vida estava difícil e que a mulher lhe éra fiel”. O tradutor do precioso documento, acrescentara um adendo ao mesmo, que o seguinte comentário: “Naqueles tempos os problemas eram os mesmos de hoje...”.

Deante de uma prova tão cabal, ficamos a “matutar” se efetivamente teriamos razões, quando abordamos o assunto, uma vez que, ante tal pormenor, não estariamos nós, nem os que iguais questões abordam, descobrindo nenhum “ovo de Colombo”. Nestas condições, a grita generalizou-se, tornando-se parte integrante da própria vida. E se é parte integrante da própria vida, logicamente haverá razões para que continue a caminhada.

Só que agora, as coisas parecem que mudaram um pouco. No passado, os poderosos “choravam” por vicio e tradição. Hoje, até aqueles que são considerados ricos, reclamam mais que os próprios póbres. E não são lamúrias e nem “choros”. São reclamações, mesmo.

Isto quer dizer, que embora no passado milenar já tivessemos problemas idênticos, nesse particular tambem progredimos um pouco: Hoje quase não existem os chamados “chorões” e sim os verdadeiramente reclamadores. E quando existem reclamações, forçoso é que se reconheça que alguns motivos de origem devem imperar.

Só que ha uma coisa: pelo menos, agora, temos um grande consolo, ao saber que 2.000 anos Antes de Cristo, outros já se queixavam do custo de vida e das dificuldades de viver. Não ha dúvida que somos os continuadores das “broncas”, principalmente hoje, quando temos governos que se dizem democráticos e quando ava(n)çamos muito naquilo que se chama cultura e civilização.

Extraído do Correio de Marília de 21 de maio de 1957

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)