Uma luta bem mariliense (23 de março de 1957)

Afóra as pessoas que nos cercam na rua, para fazer alusões sôbre diversos artigos de nossa modesta lavra, aqui publicados, sôbre a necessidade de eleição de um deputado de Marília, recebemos ontem duas interessantes e antagônicas cartas.

Uma, congratulando-se com o autor destas linhas, pelo movimento que abordamos, alertando o eleitorado mariliense, para que fique de atalaia e prontidão, quando chegar a hora de eleger os deputados estaduais, pensando um pouco mais em nós próprios, encaminhando ao Palácio 9 de Julho, um digno e lídimo representante de Marília. Simultaneamente, fazendo alusões e elogios aos nossos trabalhos a respeito, no passado, já desde o ido ano de 1946.

Outra, franca, desassombrada mesmo, atirando de frente: concitando-nos a desistir da marcha, “porque é perder tempo”. O missivista chama-nos de “ingênuo”, alegando: “Deixe disso meu amigo; o povo mariliense é algo de ingrato e irresponsável em sua maioria. Se hoje tem idéia de votar no Toni, no Badra ou em outra qualquer pessoa de Marília, amanhã muda de idéia, quando aparecer aqui um Lucianinho, um Ulisses ou outro, desde que exista (como é infalível), a promessa de um emprego para o interessado ou para sua irmã, noiva, espôsa ou cunhada”.

Aí está, leitores, a confirmação do que dissemos em nosso artigo de ontem. A impersonalidade. A inconstância. A falta de amor por Marília, essa cidade que é o berço dos filhos de muitos eleitores, que enriqueceu muita gente que aqui aportou pobre, movida unicamente pelo espírito de aventura.

Aquêle que votar num candidato aventureiro(,) de fóra, um caçador de votos, um “zé promessa”, praticará um abominável ato de injustiça para com a cidade e seu povo. Principalmente dispondo de Marília de homens capazes de bem representá-la em qualquer parlamento. Estará provando de modo irretorquível o que dissemos ontem: aspirando “Zenith” da compensação.

Para o primeiro missivista, nossa gratidão pelas palavras de estímulo e conforto, que vieram aumentar o ânimo de nossa luta. Para o segundo signatário da correspondência aludida, a exteriorização de que continuaremos, até o final, a lembrar do povo mariliense de que temos número suficiente de eleitores para elegermos mais de um deputado, aos quais tenhamos o direito de exigir trabalhos em pról de Marília e seu grande povo, ao invés de implorarmos de chapéu na mão, mendigando aquilo, que, na maioria das vezes, nos cabe por direito líquido e certo.

Nossa luta é bem mariliense. E não é de hoje. Data de há muito, conforme sabem aquêles que nos acompanham há uma dezena de anos.

Não desistiremos de nosso objetivo, porque o consideramos verdadeiramente patriótico. Se o povo mariliense incorrer nos erros passados, nós não teremos a culpa. E, se, no futuro, houver lamentações pelo fato, seremos nós os primeiros a assentar as baterias contra aquêles que não foram capazes de bem demonstrar o verdadeiro amor por Marília.

Se êsse amigo que nos escreve, solicitando-nos a mudança de rota, dignar-se pensar com mais senso, por certo há de convir conosco. A menos que não seja o “mariliense verdadeiro” que confessor ser.

Ainda muito tempo nos separa da época das eleições. As nossas palavras não serão “levadas pelo vento”, conforme afirmou êsse missivista. Pelo menos para os que têm a cabeça onde a deveria ter...

Extraído do Correio de Marília de 23 de março de 1957

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