Propaganda eleitoral? (13 de março de 1957)

Não somos reformistas e nem tampouco temos as pretensões de arvorarmo-nos em conselheiros ou moralizadores da política nacional e suas diversas formas de propaganda eleitoral. No entanto, a verdade seja dita, os diversos processos empregados pela maioria dos departamentos de propaganda de inúmeros partidos, em favor de uns e contra outros candidatos políticos, está a chamar as atenções do bom senso e da decência em nosso país.

Estamos vendo cada coisa de arrepiar os cabelos; aliás, a continuidade de processos torpes do passado. Uma verdadeira luta “valetudo”, onde são utilizados os mais abomináveis métodos de desmoralização pessoal ou de grupos.

Hoje em dia, raríssimos são os homens que aspiram um cargo eletivo, que conseguem manter-se numa linha de conduta digna de respeito ao próximo, fazendo, por isso mesmo, convergir para seus nomes e suas ações, a simpatia do público. Fazer propaganda eleitoral (eleitoreira, deveria ser o melhor têrmo), é, hoje em dia, regra geral, uma verdadeira maratona de xingações e desmoralizações. O imiscuir-se inclusive na vida privada de determinadas pessoas, e qualidade essencial daquêles que se julgam no direito de ludibriar a boa fé pública. Esgaravatar feridas morais, mentir, endeusar, prometer e prometer sempre tem sido entre nós, o salvo-conduto dos mais políticos, dos politiqueiros profissionais, desgraçadamente num número cada vez mais crescente.

Isto não é de hoje. Data de ha muito tempo. Todos estão recordados, no passado, aqui mesmo em Marilia e em diversos outros centros interioranos, o que foi verificado nas eleições municipais e estaduais. A mesquinhez de espírito dos nossos políticos, em sua maioria, é um verdadeiro caso de polícia. O senso de responsabilidade, de ha muito deixou de habitar no conceito e nas ações de incontáveis candidatos no Brasil.

Depois querem inspirar a confiança do povo. De que jeito? Dizendo desaforos e palavrões, desmoralizando, depreciando, apontando defeitos tantos, sem que ninguem seja capaz de “atirar a primeira pedra”?

Bom seria se pudessemos conduzir em nossa Pátria, a propaganda política dentro dos moldes da sinceridade e da delicadeza pessoais, apreciando valores próprios e respeitando as qualidades dos adversários políticos. Assim, teria o próprio povo, melhor sistema de orientação e maiores facilidades para votar de conformidade com a própria consciência e em atenção à própria vontade dos eleitores. Atualmente, tal não acontece. A barafunda, é tanta, a confusão é tão marcante, que os próprios ideais do eleitorado oscilam mais do que as cotações da bolsa, tamanha é a onda e contra-onda que faz em torno dos nomes dos candidatos.

Logo teremos as eleições para a deputação estadual. Aí é que veremos então, quão alto é o nivel de torpeza e infâmia de muita gente que se diz brasileira, que confessa respeitar o próximo e que declara “saber perder”.

Vamos aguardar.

Extraído do Correio de Marília de 13 de março de 1957

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