A Política Nacional (22 de março de 1957)

Já seria tempo para que interpretassemos a política nacional como um elo indispensável e precioso da corrente das diversas facções da própria vida brasileira. Seria tambem o momento para que o brasileiro em geral, tivesse pela política do país, um juizo diferente, um respeito mais acentuado, consequência, logicamente, de uma soma de ações diretamente coordenadas em beneficio da população, inspirando maior dose de confiança tradicional, resultado das lutas de idéias diversas, que convergissem sobre um mesmo vértice: o nacionalismo elogiável, sadio, digno, honrado.

No entanto, tal não acontece no Brasil. Política, entre nós, desgraçadamente, traduz luta sórdida de modo geral; significa contendas pessoais ou de grupos, objetivando domínio de idéias, imposição de simpatias, forçando condições e acôrdos, colimando o prevalecimento de pontos de vista, de saciamento de apetites pessoais, de conquistas, de “maiorias”, de subjugações.

Nas escolas, os adolescentes aprendem coisa muito diversa da realidade acerca da política. Concebem a doutrina política de maneira honesta, honrada, em função elevada diante da própria vida da Pátria. Com o passar do tempo, percebem a diferença e submergem num dilema dantesco: ou os métodos de ensino são mentirosos, ou os políticos atuais, em sua maioria, são desleais, embusteiros, falsos, hipócritas e anti-patriótas.

O disvirtuamento é completo, total. As camadas políticas de nossos dias, já não possuem a ombridade suficiente para uma luta aberta, franca e leal. A corrupção, os desentendimentos, as quizílias, já não só se manifestam entre as correntes adversárias. Residem mesmo dentro de um só partido. Forma-se “alas” diversas. Uma está com “seu” abóbora, outro com o Pirolito. Outra diverge das duas e tenta arrebanhar novo grupo. Uma apóia, outra contraria.

Hoje um partido está favorável à determinado govêrno e já amanhã, volta-se com todas as armas, contra a mesma pessôa.

Nas épocas de eleições, é que vemos com mais frequência, quão baixo é o nivel do espírito político de inúmeros políticos de nossa atualidade. Quantas baixezas, quantas torpezas, quantas infâmias são externadas!

Cargos, postos, posições, ganancias, “cartaz”, é o que, regra geral, prevalece e orienta o espírito póbre e desprezível de muitos políticos de nossos dias. Até os que apóiam os nossos políticos, hoje em dia, não o fazem senão com a idéia e o “Zenith” da compensação: um emprego público, um empréstimo, um apôio político, etc.

Como está pôdre a política nacional!

Como estão corroidos certos políticos carcomidos de nosso país!

O que temos presenciado nos últimos tempos, os conchavos, os acertos, as conversações, as confabulações, as denúncias, as sujeiras, as hipocrisias, a sordidez, a corrupção moral, a indignidade, a infâmia, a deslealdade, a baixeza, a falta de vergonha, os cambalachos, o empreguismo, o filhotismo político, a safadeza, a sencerimônia, a senvergonhice, etc., etc., fazem corar e morrer de vergonha qualquer cidadão que ainda pensa em p(r)eocupar-se com os destinos do Brasil e com a vida política da nação.

É claro que existem políticos honestos, bem intencionados, dignos. Lamentavelmente, num número tão ínfimo, que quase não são notados.

Depois, criticam o caboclo paulista, quando, na sua sinceridade natural, manifesta seu modo de pensar, dizendo que “político bom é aquele que é profissional, malandro, embrulhão e especialista em falar mal da vida alheia”.

O fato é que todos sabem muito bem de tudo isso e não estamos descobrindo nenhum “Ovo de Colombo”. Logo teremos as eleições para a deputação estadual. Aquí aportarão muitos políticos característicos como os que acima apontamos. Todos serão “amigos de Marília”, caçando votos. Ainda não ficaram cicatrizadas as feridas dos erros anteriores. Percebem os leitores, onde queremos chegar?

Extraído do Correio de Marília de 22 de março de 1957

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