O Prefeito Adhemar (27 de março de 1957)

Virtualmente, está eleito Prefeito de São Paulo, o sr. Adhemar de Barros, lider nacional do Partido Social Progeessista. E conseguiu-o por inesperada margem de votos, frente ao sr. Prestes Maia, que, ao que parece, apesar dos pesares, contou com a “mancação” dos comunistas. Isto é o que deduzimos, frente ao fabuloso índice de votos “em branco” verificado no pleito de domingo último.

Para nós, simples observadores, acompanhando a marca política de pré-eleições apenas pelo noticiário da imprensa, acreditavamos que o páreo iria ser “duro” entre as duas forças – janistas e adhemaristas -, apontando o vencedor de eleição, por pequena maioria, frente ao segundo colocado. Tal, não aconteceu. O sr. Adhemar de Barros venceu e venceu bem.

O Governador do Estado, que apoiou incondicionalmente o Sr. Prestes Maia nesse pleito, acaba de demonstrar que a força de seu prestígio político reside no interior e mesmo em outros Estados. Entendem alguns, que o Governador Jânio Quadros, perdendo as eleições através do Sr. Prestes Maia, perderá fatalmente enorme percentagem de seu prestígio político. Talvês não; talvês até venha a lucrar no futuro, uma vez que o Sr. Adhemar de Barros ostenta grandes indícios para não fazer bom governo municipal na palicéia.

As finanças da municipalidade bandeirante, não andam boas das pernas. Uma infinidade de problemas municipais estão a desafiar a argúcia, a capacidade administrativa e os trabalhos insanos do novo prefeito paulistano. Mesmo que o Sr. Adhemar de Barros venha a contar com a maioria na Câmara Municipal, temos a impressão de que éssa maioria jamais será vitalícia. Por outro lado, o Governo do Estado, certamente, tomará posição contra o Prefeito, sem apoia-lo ou aplaudi-lo. Na Assembléia, o Governador dispõe da maioria.

Pensando bem, a Prefeitura da Capital, para o Sr. Adhemar de Barros, vai transformar-se num autêntico “presente de grego”. Sem dinheiro, com a CMTC deficitária em todos os sentidos, com milhares de problemas reclamando soluções urgentes, sem aquele entrosamento com o poder central, o Sr. Adhemar de Barros terá que ser mesmo “de circo”, para sair-se airosamente da empreitada. O líder pessepista prometeu muita e muita coisa boa e necessária para os paulistanos. Muita coisa que vai exigir pulso e muita fibra. E, sobretudo, muito dinheiro.

Em realidade, o Sr. Adhemar de Barros tem explêndidas qualidades de administrador. Infelizmente, imita o ex-presidente Vargas num idêntico pormenor: num todos os que o cercam são dignos de sua confiança. Nem todos são bem intencionados. Outro ponto fraco do Sr. Adhemar de Barros num govêrno são os “cabides políticos”: Muita gente já está praticamente “arrumada”, pois as promessas de empregos públicos foram incontáveis. Sabemos, por exemplo, que daquí de Marília partirão três pessoas para ricos empregos na Prefeitura paulista. Por enquanto sabemos apenas de três nomes. E vejam os leitores, que nós nem indiretamente participamos do pleito bandeirante do último domingo. Imaginem agora, na própria São Paulo, como não será o “negócio”.

Por sua vez, o Sr. Jânio Quadros, que com tanto entusiasmo apoiou o “eterno candidato” Prestes Maia, sente-se agora no dever de voltar as vistas de seu govêrno com mais frequência para o povo interiorano. Uma vez que perdeu as eleições na Capital, o Governador sente-se premido a voltar-se para o interior, dedicando aquele carinho que não será distribuido à paulicéia, para o caboclo interiorano.

Se isto não fizer, ocasionará fatal decréscimo no seu prestígio político para com os interioranos, onde seu nome continua a ser, para uma grande maioria uma verdadeira bandeira.

Por outro lado, o Sr. Adhemar de Barros joga agora com a maior cartada política de sua vida. De sua estada na Prefeitura de São Paulo, dependerá, óbviamente, o sucesso total ou a queda completa de sua vida político brasileiro.

Vamos então, aguardar o desenrolar do místico e inexoravel tempo para voltarmos ao assunto.

Extraído do Correio de Marília de 27 de março de 1957

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