Nacionalização da industria automobilistica (1º de março de 1957)

O Presidente da República acaba de promulgar um decreto, pela qual será nacionalizada a indústria automobilística no Brasil. Prevê o aludido diploma legal, até 1960, a fabricação de carros de passeio, com 95% das peças genuinamente nacionais.

Por volta de mil novecentos e trinta e pouco, quando ainda frequentávamos o Grupo Escolar, ali na vizinha cidade de Cafelândia, perguntamos certa ocasião, ao “seu” Batista, nosso professor, por que o Brasil, sendo tão grande e tão rico, não fabricava seus automóveis, caminhões, tratores e aviões. O mestre-escola vira-se, cremos, em palpos de aranha, para explicar de modo perfeitamente compreensível a pergunta. Não que não estivesse em condições para tal, absolutamente; é que a explanação teve que ser feita de modos a ser interpretada por um cérebro infantil, distante da perfeita aceitação dos fatos consumados. Não aceitamos de todo a explicação do bondoso professor, replicando o esclarecimento, com as naturais argumentações infantis, que, embora muitas vezes eivadas de absurdos, encerram, outras ocasiões, questões que são autênticos “nós górdios”.

E lançamos à argúcia do bom e paciente professor, o nosso “fogo contra bateria”: “Se o Brasil tiver que ficar eternamente à mercê dos países estrangeiros, para a compra de máquinas tão úteis e necessárias ao seu povo e seu progresso, como fará no futuro nossa Pátria, em caso de uma eventual guerra? Êsses países irão vender-nos máquinas, armas e aviões, para com êstes utensílios combatermos êsses mesmos países?”

O professor ainda está vivo e talvez possa recordar-se do fato, apesar do tempo passado. Na ocasião, não teve o mesmo meio de justificar ou combater, ou mesmo contemporizar a pergunta que fizéramos. Teria o incidente passado desapercebido, não tivesse um servente do estabelecimento comentado a questão num bar da cidade. É por isso que de vez em quando nos recordamos do acontecimento.

Isso, sabemos, nada tem a ver com a nacionalização da indústria automobilística do país, óra preconizada legalmente pelo sr. Juscelino Kubitschek. No entanto, parece que tal nacionalização já está com um atraso de uma centena de anos.

Atentemos leitores, para a lógica e o significado daquele pensamento infantil, de vinte anos passados.

Oxalá tudo dê certo desta vez. E oxalá também, dentro em breve, possamos ter uma verdadeira indústria nacional de aviões. Ninguém sabe o que poderá acontecer com o futuro do país.

Por outro lado, tomara que não venha a acontecer o que até aqui tem acontecido com quase tôdas as emprêsas que foram nacionalizadas: Quando nas mãos de estrangeiros, servem bem, dando lucros fabulosos; depois de “oficializadas”, regra geral, têm servido de “cabides” para empregados de categoria, apaniguados políticos em maior parte, e, o que é pior, tem arrastado o país a fabulosos “deficts” que aumentam de ano para ano!

Extraído do Correio de Marília de 1º de março de 1957

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