Jornalismo Interiorano (26 de março de 1957)

Por inúmeras vezes, temos nos ocupado nestas colunas, de esclarecer aos menos avisados, a precípua missão da imprensa sadia e bem orientada, bem intencionada sobretudo, especialmente a pobre e sacrificada imprensa interiorana. Temos então, delineado a função da imprensa em relação do dever sagrado de informar, divulgar e orientar, criticando construtivamente; em resumo, servindo o público em geral.

Deparamos agora, no jornal “A Gazeta de Lins”, de 23 último (23/3/1957), assinado pelo competente colunista Ubirajara Martins, em seu artigo “Um fato em foco”, uma coincidente identidade de pontos de vista com aquilo que algumas vezes temos escrito. Assim, passando a transcrever êsse magnífico e sensato artigo, estamos reforçando nosso próprio entender. Eis a sua íntegra:

“Dôa a quem doer. Esbravejem-se os que se julgarem atingidos! Somos muito homens para aguentar as consequências! Não hesitaremos: os nomes serão apontados! Cadeia prá eles! O povo ficará conhecendo os ladrões! Os culpados prestarão contas à Justiça!

“Palavras formidáveis! Não há quem não há quem não se torne curioso, emocionado, mesmo, ao ler fráses bombásticas, sensacionalistas como essas... e não haverá quem deixe de afirmar: “jornal peitudo! Isso é que é falar!...”

“Muito bonito, para alguns, induvitavelmente.

“Imprensa amarela, geralmente, a que se utiliza de títulos e sub-títulos, desse naipe, para notícias, comentários, reportagens(.) Articulistas violentos, polemistas, na maioria, os que escrevem, continuadamente, fraseados assim cheios de arrombo, de valentia.

“Nós - pobres de nós, jornalistas humildes e despretenciosos da hinterlancia ! - não negaremos que às vezes, tal como acontece com D. Quixote, ao investir contra moinhos, nos passa pela mente desejos de usar duma valentia que, se estéril, pelo menos nos colocaria como “peitudos”, frente à uma ínfima minoria... Pobres de nós, repetimos... Gente a quem acusar, aliás, não falta. Assuntos, mais ou menos escabrosos (depende do gosto do freguês) também não seria difícil de encontrar.

“Mas, convenhamos, só para bancar o valente, só para ser “peitudo” e encantar aquela massa semi-analfabética de leitores ávidos por sensacionalismo, porque alvoroçar, porque tumultuar um ambiente pacato, uma comunidade irmanada?

“Inventar coisas é contraproducente: o autor das invencionices, não pode provar certamente, vai parar na cadeia...

“Sujeiras - e elas existem, aos montes por esses brasis afóra, devem ser apontadas sabendo-se que há garantias para quem acusar, pois às vezes os culpados são detentores de armas poderosas para represálias...

“Então, amigos, o remedio é este: vamos ver tudo côr de rosa! Laranjada não faz mal a ninguem. É até saudável. Aliás, somos dos que julgam, numa prateleira de livraria, obras menos perniciosas aquelas que integram as coloções “das moças”... Seus conteúdos assucarados, rosáceos, alaranjados, divertem, emocionam, entusiasmam, e não fazem mal a ninguém... Muitos autores de livros de sucésso, violentos, fantasticamente sensacionalistas, não puderam nunca mais voltar à sua terra, devido ao que lá os esperava, em represália...

“Covardia? não. Sentido de alta preservação pura e simplesmente.

“Eis porque, a vocês amigos, que às vezes, com arzinho ironico, debochante, caçoam dos escritos da gente, considerando-se muito “água com assúcar”, aqui ficam as palavras acima, à guiza de explicação, não uma desculpa porém.

“Sejam francos - honestos! conosco e respondam: - Vocês gostariam de que o jornalista se tomasse de inveja pelos “colegas” sensacionalistas das cidades grandes e começasse, por estas bandas, tão gostosa de se viver, tão repleta de amigos e bons conhecidos - a escrever artigos, notas e comentários sensacionalistas? Vocês gostariam da imprensa “amarela”? Não. Ninguem apreciaria.

“Paciência, pois, e perdoem-nos pelo alaranjado e dulcíssimo conteúdo da maior parte do nosso humilde trabalho... Ser diferente é não continuar a ser...”

Extraído do Correio de Marília de 26 de março de 1957

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