Será possível? (27 de fevereiro de 1957)

Inúmeras ocasiões, temos manifestado através desta coluna, nosso pensamento acerca do elevadíssimo custo de vida no país. Em verdade, o índice inflacionário dos últimos tempos, constitui-se num irretorquível recorde, dentro da vida brasileira.

E o que temos escrito, não é nenhum mistério, nenhum segredo. Todos nós estamos sentindo no lombo as consequências dêsse estado de coisas, verdadeiro desmando, incrível e autêntico desgovêrno. Não sabemos bem de que é a culpa pela situação, embora saibamos que a parcela maior da responsabilidade acerca do fato, recai, indubitavelmente, sôbre os costados do próprio Presidente da República.

Até aí, nada de mais. O fato é notório. A situação está mesmo cada vez mais insustentável. O que deixa qualquer cristão falando sozinho, são as constantes declarações do sr. Juscelino Kubitschek, de que o custo de vida “está baixando” ou “está estabilizado”!

Vejamos, por exemplo, êste trecho de um telegrama divulgado pela imprensa, quando da reunião do Presidente com uma equipe de assessores técnicos, que participa da elaboração da mensagem presidencial ao Congresso Nacional:

“Sôbre a questão do custo de vida, salientou o chefe do Executivo nacional que já estão surtindo efeito as medidas anti-inflacionárias tomadas pelo govêrno. Já se regist(r)a uma tendência para a estabilização dos preços de gêneros alimentícios, nos últimos meses. Revelou, aliás, o Presidente que recebe informações semanais sôbre a oscilação dos preços e que toma tôdas as medidas adequadas para conte-los”.

É mesmo verdadeiramente incrivel! Ou será que éssa estabilização de preços, sendo utopia para todos os brasileiros, só é milagrosa ao conhecimento do Chefe da nação, através de relatórios ou dados estatísticos mentirosos?

Das duas, uma: ou o sr. Kubitschek está sendo enganado em sua boa fé, sendo por demais ingênuo, ou então – o que é mais provavel –, está sendo vítima de quadros demonstrativos fantasticos e irreais. De outra maneira, são inconcebíveis as constantes declarações do Presidente da República, sempre afirmando que a vida melhorou no Brasil. A menos que o autor destas linhas já esteja meio “biruta”...

Será possível?

Extraído do Correio de Marília de 27 de fevereiro de 1957

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