Rosas e espinhos (28 de fevereiro de 1957)

Por força das circunstâncias decorrentes do próprio cargo, o jornalista “tarimbeiro” do interior vem a ser uma espécie daquilo que se chama de “pau para tôda obra”. Focaliza os assuntos da cidade sob os múltiplos aspectos, analisando os acontecimentos e os fatos sob poliformes significados.

Tal não acontece nas grandes cidades e nas capitais, onde a pessoa que escreve para um órgão noticioso, é especializado em determinado setor. O que escreve sôbre política, nada “pesca” de esporte. O redator social não escreve sôbre polícia e assim por diante.

Na imprensa pobre e sacrificada do interior, nem sempre bem compreendida, a questão é diferente. A mesma pessoa é obrigada a escrever sôbre sociedade, esportes, política, polícia, administração, finanças, diversões, etc..

Isso acontece com todos aquêles que militam na imprensa cabocla. É por isso que temos muitas ocasiões, que abordar um ponto de vista sôbre o qual não somos especialistas. Isso, no entanto, não significa que escrevamos de todo leigamente. A missão e noção da responsabilidade que é a nossa bandeira, obriga-nos a estudar, mesmo que superficialmente, o assunto a ser focalizado. E o fazemos com honestidade, critério e atenção. Se alguma falha apresenta, podem crês os que nos lêem, será de todo involuntária, uma vez que predomina em espíritos de rabiscadores de fatos, as melhores das intenções.

Aí é que está o valor de quem escreve na imprensa interiorana. O moldar-se as circunstâncias, o escrever sôbre tudo. Não é sopa, confessamos. Para muita gente de fora, é coisa mais banal do mundo. Principalmente para aquêles que bem não interpretam o verdadeiro sacerdócio da imprensa, que entendem ser a missão do jornalista derrotar e fazer sensacionalismo.

É por isso, que às vezes, desgostamos alguns e recebemos flores de outros. Uma coisa, no entanto, é certa: Mesmo desagradando algumas pessoas ou autoridades, não o fazemos com o objetivo pessoal; apenas analisamos aquilo que é digno de análise ou de divulgação, como órgão de imprensa que somos. Jamais, em nossa vida jornalística, patrocinamos campanha torpe ou difamatória contra quem-quer-que-seja. Jamais promovemos caminhada inglória.

A êsse respeito, fomos procurados ainda ontem, por um cidadão grandemente responsável em nossa cidade. Uma pessoa que ocupa um cargo passível de críticas das mais variadas. Cidadão que inúmeras vezes foi citado nesta coluna ou em outras do “Correio”. E o mesmo trocando idéias acerca de nosso dever, felicitou-nos efusivamente. E temos a certeza de que o fez sem hipocrisia. Até animou-nos a continuar nossa missão, mesmo referindo-nos acerca de sua pessoa e de seus atos.

Fatos como êsse, confortam todos aquêles que são “tarimbeiros” da imprensa e que estão imbuidos do melhor desejo em servir uma coletividade, esforçando-se para tal.

Significa, que além dos espinhos da profissão, de vez em quando colhemos também as nossas rosas.

Extraído do Correio de Marília de 28 de fevereiro de 1957

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