Otimismo? (24 de janeiro de 1957)

A gente não deve ser demasiadamente pessimista e nem tampouco exageradamente otimista. O brasileiro, regra geral impulsivo, costuma pender para o exagero, quando não muda como um paravento. Deve ser consequência de seu sentimentalismo natural, seu amor pelas coisas de sua gente e de sua Pátria.

Referimo-nos aos momentos em que temos que nos fazer representar em quaisquer certames internacionais. Pecamos em excesso.

No futeból, foi assim. Antes da Copa do Mundo de 1950, já nos endeusávamos e estufávamos o peito, chegando mesmo a jactar-nos de virtuais campeões. Subestimamos os uruguaios e os mesmos levaram para sua terra a Taça “Jules Rimet”, quando ésta, na opinião da maioria, já “estava no papo” de Flávio Costa. Em 54, aconteceu o mesmo, só que a decepção antecipou-se muito.

Nas últimas olimpíadas, se não fosse o Adhemar (não o de Barros, o Ferreira da Silva), teria nossa representação feito um fiasco total.

Marta Rocha, representou condignamente o Brasil no certame das beldades mundiais, quando nosso país foi vítima de verdadeira injustiça. Os americanos pódem conhecer aviões à jacto, foguetes teleguiados, cinema, “chiclets”, coca-cola e outras coisas mais; em matéria de apreciar o valor plástico da mulher são uma negação. Desprezaram Marta Rocha, exatamente inapreciando seu verdadeiro valor: as duas famosas polegadas do “equador”.

Maria José Cardoso, outro fracasso. Foi endeusada. Foi apontada, nas exibições anti-prova, como “candidata favorita”. Depois, não pegou “nem resfriado”.

Agora, mandamos a Colombia, a moreninha Clélia Honain, de Araraquara. Bom “material”, pelo que se percebe, através das fotografias publicadas pela imprensa. Os “Diários Associados” mandaram à Manizales, local onde será ferido o certame internacional, para “descobrir” a “Senhorita Mundial do Café”, a cronista Margarida Izar e mais um fotógrafo. Já principiaram a surgir as primeiras reportagens a respeito das beldades. Viram touradas, brigas de galos, etc. Participaram de recepções, homenagens, visitas. Estão “abafando”, segundo Margarida publica.

O franco favoritismo está distribuído entre Cleia e Glória Aristizabal, da Colombia, uma loura espetacular. E nem poderia ser de outro modo. Não ficaria bem a predileção entre Cléia e outra representante, que não fosse a do país promotor do certame.

Já vimos, ao que parece, o mesmo otimismo exagerado por parte da cronista. Cléia está criando calor em Manizales, com seu palminho de rosto e com seu corpo escultural. Oxalá éssa predileção venha a traduzir-se em realidade.

Entendemos, que mesmo que a simpatia geral seja concreta, aparentemente, a reporter Margarida deveria dizer que a moça estava sendo admirada e encarada com simpatia. Porque o “negócio” com a população é uma coisa e com os juizes é outra. Se Cléia vier a conquistar o cetro do concurso, Margarida “sairá bem”. Se, ao contrário, nossa candidata ficar preterida, só restará à reporterr, incriminar e injustiçar a comissão julgadora, para justificar seus próprios ditos.

Vamos aguardar, portanto, o certame que terá lugar no próximo sábado. E vamos “torcer” para que os colombianos não sejam como os americanos que julgaram Marta Rocha...

Extraído do Correio de Marília de 24 de janeiro de 1957

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