A “blitz” contra o custo de vida (12 de janeiro de 1957)

Anunciou o Sr. Presidente da República, seus intentos de desencadear em todo o território nacional, uma verdadeira “blitz” contra o atual custo de vida, forçando, senão a baixa dos preços das coisas de primeira necessidade, pelo menos estagnar as constantes altas.

O propósito, segundo já tivemos oportunidade de comentar anteriormente, póde ser considerado dos mais nobres. No entanto, conforme nos manifestamos ha pouco, temos as nossas dúvidas na consumação dessas propaladas providências. Esse descontrole econômico, certamente importado, tornou-se entre nós um “bicho de sete cabeças”, com fôlego de sete gatos. Urgiria um ataque em massa sobre todas as cabeças do indesejável, para poder obter-se algum resultado que pudesse beneficiar o sacrificado povo brasileiro.

Até aqui, a “blitz” tem procurado atacar apenas alguns setores, e , isso mesmo, depois de uma propaganda prévia e estrepitosa, que faculta meios de “auto defesa” aos interessados, que se preparam para amortecer os choques e enfrentar as providencias a respeito. O resultado, aí está. A vida cada dia mais difícil se torna, chegando a fazer com que os proprios governos caiam no descrédito público, tal a pusalinimidade que, neste setor, até agora têm apresentado.

O cancro, chamado “intermediarismo”, deve ser estirpado. É, ao par das inépcias dos governos nesse sentido, o principal responsavel pelo que estamos vendo e sentindo.

Anunciam os governos do momento, grandes planos de desenvolvimento. Grandes campanhas, grandes iniciativas(,) grandes realizações engrandecedoras. Bom seria que os dirigentes, das órbitas nacional e estaduais, voltassem um pouco mais suas vistas para o povo interiorano, que sofre hoje como nunca desde que o Brasil foi descoberto por Cabral.

O povo interiorano é um povo esquecido. Em tudo e por tudo. Regra geral quase tudo o que apresenta e realiza, é consequência de trabalhos próprios, de esforços pessoais. Progride em inúmeros setores, mas sucumbe ante a realidade de sua impotência para deter o custo de vida, que ameaça asfixiá-lo. Não dispõe de armas, a não ser o direito de expernear e gritar. Mas isto, provado está, nada adianta. Os govêrnos não ouvem e mesmo que desejem ouvir o gripo angustiante do brasileiro sacrificado do sertão, nada podem fazer, porque os inimigos, traduzidos em classes interessadas e, muitas vezes em autênticos soldados do progresso nacional, tem nas mãos trunfos poderosos e meios suficientes para inutilizar qualquer boa intenção dos governantes.

Os dirigentes precisam voltar suas vistas para o interior. Precisam fazer alguma coisa nesse sentido. Precisam salvar o Brasil, impedindo que o próprio nacional pereça de inanição.

Será difícil citar fatos exemplificadores, tantos e tantas são. Vejamos, por exemplo, o atual preço do arroz – alimento básico do (povo) nacional. Em pouco meses, subiu de 13 para 27 cruzeiros. Cento e pouco por cento!

E muitas outras coisas, desnecessárias de citação, porque todos as sentem na própria carne.

Por nosso lado, sabemos sobejamente, não só porque sofremos como parte do povo brasileiro, mas porque ainda, a experiência já nos ensinou, de nada adiantam os nossos gritos. Mas continuaremos gritando. Continuaremos clamando, porque é o nosso dever.

Gostem ou não aquêles que são inimigos do povo.

Extraído do Correio de Marília de 12 de janeiro de 1957

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