A Semana da Asa (25 de outubro de 1956)

Marília não esteve indiferente às comemorações da Semana da Asa, que se feriram em todo o Brasil. Terça-feira, às 16,45 horas, todos aviões marilienses, que se encontravam em condições de vôo, estiveram no ar no horário referido.

Por outro lado, as escolas dos diversos cursos educacionais da cidade, prestaram também significativa homenagem ao pai da aviação. Solenidades especiais, palestras, alegorias, foram apresentadas a respeito, fazendo viva a lembrança e a saudade do povo brasileiro, ao acontecimento que tanto orgulho representa para nós.

A respeito, recordamos que há uns 10 ou mais anos passados, assistimos ali no Cine São Luiz, um filme americano, sôbre a história da aviação. E saímos indignados com o desenrolar da película, apesar de tôda a nossa simpatia pelos norte-americanos. É que o enredo demonstrava a história da invenção do aparelho “mais pesado do que o ar”, suas experiências iniciais e as lutas de seus descobridores.

A história esqueceu Santos Dumont; ou melhor, relegou ao indiferentismo o verdadeiro timoneiro da aeronáutica. A idéia foi atribuída a dois irmãos – os Writs, se não estamos equivocados. Bem filmada, convincente, com a impregnação tôda especial de uma natural comicidade. Mas nós, que desde o curso primário, havíamos aprendido alguma coisa sôbre o feito heróico do grande e saudoso patrício, ficamos aborrecidos com o filme. Ficamos mesmo chocados, atingidos frontalmente em nosso patriotismo latente, adquirido nos bancos escolares.

E chegando ao “Correio”, não pudemos nos conter: “Lascamos o pau” no produtor do filme, como desaprovação e protesto a um fato que entendemos como afronta aos nossos sentimentos patrióticos. Tempos depois, conversamos com um americano e tocamos no assunto. E o homem, dizendo-se estudioso das questões históricas de sua pátria, nos confirmava o que aprendera: a aviação fôra realmente descoberta pelos americanos! Fôra nossa segunda decepção a respeito.

Não pudemos buscar melhores firmezas de pensamentos, em estudos acurados. No entanto, sempre que tínhamos oportunidade, procurávamos ouvir alguém entendido sôbre o assunto, para aclarar de vez a dúvida que a película em apreço nos acarretara. E ficamos convencidos de que aquêle filme foi um verdadeiro abuso, que jamais deveria ter sido exibido entre nós, pois contradizia flagrantemente pontos básicos da própria história do desenvolvimento e das invenções relevantes dos brasileiros.

Hoje, ninguém mais recordará, provavelmente, o citado filme. No entanto, se alguém ainda tiver a lembrança do mesmo, há de fazer uma ligação conscienciosa de seu enredo e da verdade atual. E concluir, forçosamente, como nós, que a primazia da hitória da aviação, queiram ou não os outros povo, pertence aos brasileiros. E de cujo fato nos orgulhamos e batemos no peito.

Mas o fato até lembra aquela piada, mais ou menos assim resumida: Os russos anunciaram que foram eles que inventaram a bomba atômica, a V-2, a hidrogênio, a fotografia, o cinema, e não sabemos mais o que. Foi quando um gaiato, pondo a mão na cabeça, indagou: “será que foram eles também que inventaram o trabalho?”

Extraído do Correio de Marília de 25 de outubro de 1956

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