O Brasil e a inflação (30 de outubro de 1956)

Desolador quadro estatístico acaba de ser divulgado pela imprensa nacional, acerca do índice inflacionário de mais de sessenta países do globo. O Brasil, o chamado rico Brasil, cujas reservas minerais dormitam no sub-solo, cujas terras tudo produzem, cuja extensão territorial é das mais invejáveis, ostenta, desgraçadamente, o primeiro lugar dentre as nações mais inflacionárias do mundo, com uma cifra de elevação constante do custo de vida, de fazer vergonha até aos estrangeiros entre nós radicados.

O fenômeno agrava-se dia a dia. Os estudos desenvolvidos por técnicos e comissões especializadas têm sido os mais inócuos possíveis. Os planos de reerguimento econômico do país postos em prática pelos govêrnos e ministros de Estado, até aqui nenhum resultado objetivo conseguiram apresentar. O descontrole é tão patente, que passou a ser coisa de rotina entre os brasileiros. Já ninguém se admira das elevações constantes do custo de vida, já ninguém se estarrece da política econômico-financeira do país, nem da política que orienta e dirige o comércio importador e exportador.

Em que pese as boas intenções e trabalhos sinceros e bem intencionados de alguns patrícios, o Brasil, nesse passo, caminha irremediavelmente para o cáos econômico.

O trigo brasileiro, colhido no sul, tão bom como o argentino,o norte-americano, o canadense ou o europeu, apodrece no interior de igrejas e armazéns improvisados, por deficiência de transporte, por absoluta falta de apôio governamental. Safras de uma região não podem ser muitas vezes, escoadas para regiões vizinhas, mesmo quando estas produzem deficientemente ou em condições inferiores das exigidas pelo próprio consumo, pelos mesmos motivos. A interferência dos intermediários (que enriquecem do dia para a noite), em tôdas as atividades da própria vida consumidora do país, constituem o mais berrante descontrole e o mais irretorquível meio de ação direta contra os próprios interêsses do brasileiros.

Estudos, entrevistas à imprensa, conchavos, instalações de comissões técnicas, até o presente nada têm resolvidos. E a prova aí está. O boletim divulgado, veio apenas dar ao problema um cunho oficial para conhecimento por escrito a todos nós; porque, em verdade, ninguém ignorou jamais, que nos últimos 10 anos, a política econômico-financeira do Brasil tem sido a pior da sua história, a pior do mundo.

Extraído do Correio de Marília de 30 de outubro de 1956

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